06 mar, 2023 • Sérgio Costa , Olímpia Mairos
O comentador d’As Três da Manhã considera que a “Igreja portuguesa perdeu por completo o pé e está a perder o bom senso”.
“Estamos a falar da Igreja, não estamos a falar de um caso político, não estamos a falar de partidos, estamos a falar de uma instituição que é a Igreja e, portanto, tem um lugar especial. Eu acho que a Igreja tem um lugar especial e, portanto, tem que ter um tratamento especial e críticas muito mais duras”, argumenta.
O comentador reagia às declarações de D. Manuel Clemente, cardeal patriarca de Lisboa, que, no domingo, em declarações aos jornalistas, defendeu que falar em indemnizações será insultuoso para as vítimas de abusos, porque tal não foi pedido. Explicou ainda que decidir a suspensão de alegados padres abusadores ainda no ativo é um processo que cabe apenas à Santa Sé, com factos comprovados e respetivo contraditório.
Antes mesmo das declarações do cardeal, o bispo auxiliar de Lisboa, D. Américo Aguiar já tinha garantido que o patriarcado irá agir com transparência total, prometendo novidades para esta semana.
“A transparência total e a tolerância zero é o grito do Papa Francisco, e naquilo que diz respeito ao patriarcado, nos próximos dias, vamos agir em conformidade com isto”, assegurou o também presidente da Comissão Diocesana de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis.
No seu comentário Henrique Raposo, defendeu que a Igreja “não pode assumir que é especial de manhã e, depois, à tarde aparecer com respostas à Sócrates. Acho que estamos à espera do transitado em julgado e o tempo da justiça. Isso não serve, porque nós não estamos a falar de um caso político ou legal, é moral”.
Neste processo dos abusos, o comentador identifica “dois erros colossais” por parte da Igreja.
“Um é dizer que só a Santa Sé é que pode desviar um padre ou suspender. Não. Não é o Vaticano que sabe o que é que se passa em Famalicão ou Faro. Tem que ser o bispo local a assumir as responsabilidades e os bispos portugueses estão a fugir das suas responsabilidades”, sinaliza.
A outra questão - segundo Raposo – prende-se com as compensações financeiras.
“Claro que não é a compensação financeira que vai resolver o assunto e vai tapar a dor das pessoas, nem as pessoas iam pedir isso. Mas nos outros países, a Igreja Católica compensou as pessoas porque, de facto, é preciso ir além das palavras. E a compensação financeira é, no fundo, sinal de perdão da Igreja”, clarifica.
Para o comentador, na sexta-feira, “os bispos disseram uma coisa que está moralmente errada, que é tentar desligar o abusador da Igreja”.
“Isso não é possível, porque um padre não é como um professor na escola. O professor na escola vai fazer as suas aulas, mas depois tem dezenas de outras atividades. Um padre anula-se por completo e é a Igreja, não é possível separar”, argumenta.
“Outra coisa de que a Igreja portuguesa está a fugir - a questão não são os abusos - questão central foi o encobrimento dos abusos por parte da própria Igreja. E é essa cultura de poder, de silenciamento e de encobrimento que, no final do dia, tem que ser posta em causa”, acrescenta.
Nesta hora difícil para a Igreja, o comentador entende que os católicos têm que “ser impiedosos com a própria casa”.
“Há momentos em que temos que criticar a nossa própria casa, mesmo com o perigo de ficarmos, de facto, sozinhos e sermos considerados traidores. Mas aquilo que está em causa é muito grave. (…) e aquilo que os bispos portugueses têm dito nos últimos dias é muito grave e têm de repensar a posição”, completa.