20 mar, 2023 • Sérgio Costa , Pedro Valente Lima
Os 13 militares que se recusaram a embarcar numa missão de acompanhamento de um navio russo já estão a ser ouvidos pela Polícia Judiciária Militar. Henrique Raposo fala de um caso de um "caso de indisciplina", mas também não duvida do eventual "estado péssimo" do NRP Mondego.
"Antes de mais, é um caso de indisciplina que tem de ser julgado. Sendo bombeiro, polícia, militar, a sua função é entrar no perigo. Não pode 'não ir' para o perigo, está-se a anular a si próprio", aponta o comentador da Renascença.
No entanto, Henrique Raposo não deixa de questionar o eventual estado da embarcação, resultado da falta de investimento e de manutenção do equipamento militar. O comentador começa por dar o exemplo dos tanques Leopard, "que estão na garagem sem peças".
"Estão à espera de um exército espanhol imaginário que não vai aparecer, quando temos o Atlântico para defender, por exemplo, do tráfico de droga. Nós somos uma anedota internacional, porque a nossa costa é um passador de drogas."
Em entrevista à Renascença, o Chefe do Estado-Maior da Armada, Gouveia e Melo, salientava a importância de as autoridades portuguesas possuírem os meios necessários para proteger as águas portuguesas.
ouvidos a partir das 10h00
Paulo Graça, advogado que representa os 13 militar(...)
Para Henrique Raposo, o caso do navio NRP Mondego é mais um capítulo que comprova essa necessidade: "Nós não temos navios operacionais para defender a nossa costa e para cumprir coisas básicas. A missão em causa era uma coisa simples, era quase um 'proforma' militar".
Contudo, antes de apontar o dedo aos marinheiros, o comentador da Renascença salienta ser necessário dar-lhes a palavra e direito de defesa nas instâncias adequadas, como o Tribunal Militar.
"Eu quero ouvi-los, porque eu tenho a certeza [de] que aquele navio estava num estado péssimo, [tal] como temos navios que estão sempre a avariar. Isto revela um estado [de desinvestimento]... Eu pergunto: o que é que o PS faz ao dinheiro?"
Henrique Raposo salienta que a questão do desinvestimento é transversal à sociedade portuguesa, desde a Marinha e o Exército, às escolas e hospitais. E destaca outro caso recente: a Carta de Perigosidade Rural.
De acordo com o mesmo documento, as populações rurais poderão ser impedidas de sair de casa em dias de risco elevado de incêndio. "Como o Estado não consegue fazer uma coisa básica, [que] é articular a polícia com guardas florestais e bombeiros, como o Estado não consegue fazer o seu trabalho, prende as pessoas em casa", lamenta.
No final de contas, o comentador conclui que tudo se resume à ação ineficiente do Governo: "Nós trabalhamos para o Estado metade do ano. Onde é que está o dinheiro? Onde é que está o investimento correspondente aos impostos e às taxas que nós pagamos?"
"Como é que chegámos a um ponto em que todos nós sentimos que as coisas funcionam mal em todos os setores do Estado?"