05 jun, 2023 • Sérgio Costa , Pedro Valente Lima
O comentador da Renascença Henrique Raposo "tira o chapéu" ao treinador do FC Porto, Sérgio Conceição.
No rescaldo da vitória do FC Porto na Taça de Portugal, a terceira Taça de Conceição e o 10.º título do seu currículo pelos "dragões", Raposo olha para o técnico noutra perspetiva: a de uma "rockstar".
"Nós precisamos de 'rockstars', como Sérgio Conceição, como Zlatan Ibrahimovic. De pessoas [assim] neste tempo em que a liberdade está tão controlada, [em que] há demasiado medo de arriscar, demasiado medo de chocar. Nós precisamos destas pessoas, mesmo que não se goste delas."
Assumido adepto do Benfica, Henrique Raposo diz não gostar "particularmente" de Sérgio Conceição: "Chateia-me aquele hábito que ele tem de ganhar. Mas isso não me impede de admirá-lo."
Raposo admira Conceição "na liberdade radical que ele tem, indomável. Não tem medo de chocar, diz o que pensa, e isso é muito importante em todos os setores da sociedade, não é só no futebol."
O comentador contraria a ideia muita propalada na comunicação social de que Conceição "arruaceiro e mal-educado". Para Henrique Raposo, Conceição "é livre".
"Todas as grandes estrelas do futebol, quer treinadores quer jogadores, eram arruaceiros se usássemos essa grelha bem comportadinha das televisões."
"O Maradona não calçava, o George Best não calçava, porque eram, lá está, livres, eram 'rockstars'. E têm essa liberdade indomável que se espera das estrelas, mas que, hoje em dia, se sentem controladas, num ambiente em que parece que somos todos escravos do Twitter, dos fiscais do Twitter", lamenta.
Por isso, "todos os setores da sociedade" precisam destas "estrelas de rock".
Por outro lado, o comentador da Renascença sublinha que "o futebol, por inerência, é o escape irracional da sociedade", em que por vezes o ser humano pode realçar comportamentos menos corretos - mas "é normal, é futebol".
"O Sérgio Conceição fez aquele gesto indelicado para o banco do Casa Pia. Foi um segundo. E passou-se uma semana inteira a julgar um homem por aquele segundo, em que foi livre. Isso é normal . Agora é o David Neres que está a ser julgado, porque disse um palavrão contra o Otávio. Quer dizer, é futebol..."
Henrique Raposo reconhece que tem de haver normas a cumprir, mas que também é preciso "perceber que no futebol, na arte, no teatro, na música, as pessoas são, por inerência, radicalmente livres".
"Com a liberdade vêm os excessos, que nós podemos não gostar, mas não podemos fazer disso a essência da coisa."
Sérgio Conceição ultrapassou os limites? "Não", sublinha. "'Fez um gesto indelicado'. E então? Passemos à frente."
O comentador da Renascença remata afirmando que a vigilância feita às "estrelas", como o treinador dos "dragões", é resultante de um "ecossistema mediático, sobretudo televisões, dominado por uma colonização do Twitter".
"Andamos todos à procura da falha da estrela, o momento em que a estrela mete a pata na poça. E não é isso que nos interessa."