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“O capitalismo está a ir por um caminho onde as pessoas não existem”

Henrique Raposo

“O capitalismo está a ir por um caminho onde as pessoas não existem”

03 jul, 2023 • Sérgio Costa , Olímpia Mairos


Henrique Raposo olha para o que está a acontecer em França e reflete sobre as causas dos distúrbios que atingem várias cidades.

Henrique Raposo, comentador d’As Três da Manhã, considera que os tumultos em França, com várias noites de distúrbios, motins e violência, têm a ver com questões económicas. Acontecem, recorde-se, depois de Nahel M., jovem de 17 anos, ter sido morto pela polícia, após ter tentado escapar a uma "operação stop" em Nanterre, nos arredores da capital francesa.

“Estamos saturados dessa conversa de identidade racial, comunidade, racismo, quando, a meu ver, a questão é económica. Aquelas pessoas brancas, castanhas, negras, têm todas um problema: são pobres e têm poucas oportunidades”, assinala.

Para Henrique Raposo, “estamos a falar de uma juventude francesa” onde, ou se tem “um grande curso superior e se consegue um acesso à economia da Web Summit e da finança”, ou se “fica no vazio, porque o trabalho manual da velha classe operária e da baixa classe média foi destruído”.

O comentador dá mesmo o exemplo da Decathlon e do Ikea, onde já não se encontram pessoas nas caixas e onde o consumidor faz a conta e paga.

“Agora esses trabalhos, que davam sustento a muita gente, a parte de baixo da sociedade, desapareceram e agora nem sequer há os trabalhadores que registavam, as pessoas que estavam nas caixas”, lamenta.

Na visão de Henrique Raposo, “o capitalismo está a ir por um caminho onde as pessoas não existem” e isso provoca fissuras na sociedade.

Questionado sobre se a falta de acesso à educação por parte de algumas franjas da sociedade não poderá ser uma das raízes do problema - como o que está a acontecer em França - o comentador diz que, “se formos por aí, vamos ficar presos nos dois extremos: a extrema-esquerda do politicamente correto e a extrema-direita do racismo, nacionalismo".

“As pessoas nos bairros mais pobres, brancas, pretas, azuis, amarelas, têm todos os mesmos problemas, são pobres e têm poucas oportunidades”, repete.

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