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"Marcelo tem de ter consciência de que não somos todos estúpidos"

Henrique Raposo

"Marcelo tem de ter consciência de que não somos todos estúpidos"

18 set, 2023 • André Rodrigues , Marta Pedreira Mixão


Henrique Raposo defende que o "silêncio" em relação aos comentários de Marcelo sobre o decote da jovem é ainda "mais inaceitável porque vivemos no caso Rubiales".

Henrique Raposo, comentador d’ As Três da Manhã, criticou os comentários do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre o decote de uma jovem portuguesa, classificando o incidente como “uma boca machista, sexista para uma jovem”.

Na conversa com uma jovem e a sua mãe, na quinta-feira, o Presidente da República comentou: "A filha ainda apanha uma gripe, já viu bem, com o decote?", contudo, quando confrontado, argumentou que o seu comentário foi por causa do frio e "não era sexista de todo".

Para o comentador, o incidente é "mais sério do que isso e Marcelo Rebelo de Sousa tem de ter consciência que nós não somos todos estúpidos. É claro que não estava a falar do frio que a menina estava a passar”.

“Não temos de ter um temor salazarista pelo Presidente da República, que ainda por cima é um menino bem-nascido, que é um menino querido de dois regimes diferentes, professor da Faculdade de Direito - que é um antro machista, já agora -, e presidente da República. Claro que aquilo era assédio moral”, acusa Henrique Raposo.

O comentador relembra ainda que, “na mesma semana, ele tem outra boca captada em que goza, boçalmente, com o peso de uma senhora [“Será que a cadeira aguenta?, perguntou Marcelo]".

"Como professor da Faculdade de Direito, ele tem um lastro histórico desta atitude em relação às alunas, em relação às professoras em início de carreira", afirma, fazendo referência a um texto de Francisca Soromenho, que agora é professora na Faculdade de Direito, onde ela descrevia "o comportamento machista - não tem outra palavra -, marialva de Marcelo, em que elogia aos pares masculinos e quando chega a vez dela, comenta o decote, o cabelo ou o peso".

"Este é o padrão do Presidente da República. E há outro padrão, que é um relativo silêncio em relação a Marcelo Rebelo de Sousa, porque é um homem extremamente poderoso", afirmou, salientando que "era poderoso no antigo regime, é poderoso neste regime" e que, por isso, as pessoas têm medo".

"Mas este medo, este silêncio é ainda mais inaceitável porque vivemos no caso Rubiales, a sociedade portuguesa que se revoltou, e bem, juntamente com a espanhola, quanto a Rubiales, não pode estar calada em relação a esta atitude sistemática, repito, sistemática".

Henrique Raposo relembra ainda "o escândalo ao nível do 'Me Too'" na faculdade de Direito e refere que "se tivessem puxado o novelo, teriam chegado a Marcelo Rebelo de Sousa e aquilo que ele dizia às alunas nas orais, por exemplo".

O comentador defende que "era bom que se esticasse o novelo até ao fim, porque há duas coisas gravíssimas aqui. Além disto tudo, os miúdos, que são os pares das minhas filhas nas escolas, veem isto e dizem: mas se ele não se comporta como deve ser, porque é que eu tenho de me comportar como deve ser?"

Outro ponto, "ainda mais grave", para Henrique Raposo é "a sociedade, a elite do jornalismo, do comentário, dos artistas, dos escritores que estão calados em relação a Marcelo, o que é que vão dizer quando for o Chega a dizer isto?", questiona, apontando que estão "a dar pontos ao tal populismo" e que é preciso coerência.

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  • José J C Cruz Pinto
    19 set, 2023 Ílhavo 05:51
    Muito bem! É com muito prazer que elogio um comentário ajustadíssimo e oportuno de um articulista de quem habitualmente discordo em tantas outras coisas. Além do que diz, que presumirei em tudo verdadeiro, há uma questão bem mais simples: é fatal que quem fala demais, em todo o lugar, e a propósito e a despropósito de tudo e de um par de botas, vai acabar por dizer disparates e fazer triste figura. E já é assim com excessiva frequência: seja quando diz que somos "os melhores do mundo" em tudo e mais alguma coisa (que é praticamente todos os dias), quando diz que somos "Ronaldo" ou quaisquer outras irrelevâncias (futebolísticas e materiais), deita (ou deitou) água na fervura de feridas graves como a dos abusos sexuais na Igreja, etc.. [Se não tirar tantas "selfies", talvez também ganhe oportunidades de falar e "escorregar" menos.]