13 dez, 2024 • André Rodrigues , Olímpia Mairos
Na análise ao adiamento dos despejos em Loures, até que haja uma alternativa para cerca de uma centena de moradores de um bairro clandestino em Santa Iria da Azóia, o comentador da Renascença Henrique Raposo começa por dizer que as pessoas vão ficar ali.
“Eu admiro imenso aquelas pessoas, porque elas estão a resolver o problema com o seu próprio esforço. Estão a levantar as suas próprias casas. Porque, obviamente não têm dinheiro para alugar ou comprar uma casa. A habitação social da Câmara está entupida e a lista de espera é enorme”, observa.
Para o comentador, este “problema não é novo” e lembra que há 70 anos, o bairro onde nasceu e cresceu até aos 10 anos, é mesmo ali ao lado, em Santa Iria da Azóia, Loures “foi feito assim”.
“O truque era levantar a casa no próprio dia, para quando o fiscal aparecesse, a mãe colocava lá dentro o bebé e dizia: ‘onde é que eu vou morar?’. Era assim que as coisas eram feitas”, lembra.
“E é igual. Porque o impulso humano é igual. Há 70 anos eram alentejanos, agora são de São Tomé ou de Nepal. É igual. As pessoas vêm para procurar uma melhor vida. Dizem que há emprego e há. Há emprego, mas não há casas”, sublinha.
No seu espaço de comentário n’As Três da Manhã, Raposo alerta que, “se não resolvermos as coisas que estão a montante, que é a burocracia, que chega a ser cómica, para conseguir construir uma casa ou renovar uma casa, este problema vai-se agravar”.
Lembrando que há um novo aeroporto e uma nova ponte para construir, Raposo insiste que “estes bairros clandestinos vão crescer”.
“Porque as pessoas vão atrás... É a mesma história humana, com pessoas diferentes. As pessoas vêm atrás de melhores empregos, na esperança que os filhos tenham acesso à cidade e àquilo que a cidade pode dar, e vão viver nestes bairros clandestinos”, diz.
E mais uma vez, Raposo dá o exemplo do bairro onde viveu e que chegou a ser o maior bairro clandestino da Europa, e em que a maior parte das casas ficaram legalizadas 70 anos depois.
Por isso, o comentador entende que “vamos ver exatamente o mesmo processo histórico a acontecer debaixo dos nossos olhos, só que, hoje em dia, é mais difícil aguentar mediaticamente, porque há televisões, há internet. No meu tempo ninguém queria saber de nós e ninguém aparecia para nos filmar”.