28 fev, 2020
Costumo dizer que o feminismo fez de mim um homem. Não é ironia. Foi o feminismo que fez de mim um homem de família, um homem que defende os seus, os seus pais, os seus filhos, o seu casamento, a sua mulher, um homem enquanto ser moral que se eleva acima da biologia, um homem à John Ford que se coloca abaixo dos outros, um homem que diz, A man’s gotta do what a man’s gotta do! Sim, em 2020, chegar à decência masculina (e máscula) de John Ford e John Wayne implica passar pelo feminismo, pois só por este caminho chegamos à decência familiar. O caminho alternativo, a narrativa ainda vigente para os homens, é a celebração de uma eterna adolescência que coloca a masculinidade em rota de colisão com a família.
A alegada revolução sexual e dos costumes deixou-nos uma sociedade ainda mais marialva do que a anterior. No passado, tínhamos pelo menos um ethos de responsabilidade. Contra corrente, ainda fui educado neste ethos à Bruce Springsteen. A educação que os meus pais me deram tem como guião a música "The River", Se engravidares alguém, tens de ser homenzinho! Ou seja, se engravidasse uma rapariga, eu teria de assumir as minhas responsabilidades, teria de começar a trabalhar para pôr comida na mesa. Fugir ou forçar o aborto seria visto como uma desonra. Só que esta moral conservadora (e operária) que me educou já estava em minoria nos anos 90 e agora parece que desapareceu por completo.
A figura do pai foi sacrificada no altar de uma noção de masculinidade que prende os homens numa eterna adolescência. Através do rap, de hollywood, do pop, do rock, das séries, das novelas, dos workshops académicos sobre modernidade líquida, foi criada uma sociedade que, ao destruir a família, deu carta branca à libido masculina. “Ser homem” passou a ser sinónimo de fugir de namoros, de casamentos, de responsabilidades; “ser homem” passou a ser sinónimo de saltitar de prazer em prazer. Claro que este culto da evasão transformou os homens em criaturas que não suportam momentos difíceis. Neste contexto de eterna adolescência masculina, os seres mais frágeis e histéricos não são as mulheres, são os homens. Para o homem só existe “realização pessoal” e prazer sexual. A família não é com ele.
Querem um exemplo? Segundo alguns estudos, o divórcio é seis vezes mais frequente quando elas ficam doentes com cancro. Seis vezes mais. Ou seja, quando os homens adoecem, elas ficam. Quando as mulheres adoecem, muitos homens fogem. Como homem, sinto vergonha deste retrato do homem dito moderno. É um retrato miserável. É um retrato de uma sociedade onde os homens não são homens, são meninos que só querem saber do prazer e que, por isso, desertam nas horas difíceis. Os homens fogem, literalmente. A tal crise de valores é, antes de tudo, uma crise dos homens, da masculinidade, da figura do pai e do marido. É uma pena que tantos sectores católicos não compreendam isto. É uma pena que tantos sectores católicos continuem a associar a “crise de valores” ao “papel da mulher”. Não, o problema não está na educação das mulheres, está na deseducação dos homens.