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Henrique Raposo
Opinião de Henrique Raposo
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A salvação dos mais velhos não pode destruir o futuro dos mais novos

15 jan, 2021 • Opinião de Henrique Raposo


Manter as escolas abertas é a decisão certa. Sabemos que o vírus não mata crianças. Sabemos que o vírus não é transmitido com grande intensidade pelas crianças.

Para o pai e para a avó, a suspensão das missas foi difícil, mas não foi um dano irremediável. O hábito está construído; será recuperado em breve. Mas, para a filha, o fim da catequese e do hábito da missa, sim, teve e ainda tem um potencial de destruição irreparável na educação da fé e até na educação cívica. Ir à missa não é só um momento espiritual da nossa relação com Jesus, é também um momento de convívio. "Igreja", se bem me lembro, quer dizer casa e comunidade e, como sabem, é muito difícil educar na cidadania e na religiosidade uma geração que se mutila com telemóveis e que se aprisiona nas redes sociais. O #ficaremcasa afastou ainda mais os miúdos da igreja, da paróquia, da família, da vizinhança, do clube, de qualquer pertença comunitária.

É por isso que saúdo as mudanças deste segundo #ficaremcasa, que recusa os excessos draconianos do primeiro, sobretudo aqueles relacionados com o cancelamento da infância. Proteger os meus pais, tios e sogros não pode determinar uma terra queimada na educação e no futuro das minhas filhas. Na gestão da pandemia, tem de existir um equilíbrio geracional, que não foi respeitado na primeira fase. Os miúdos não aprenderam com a escola à distância. E este atraso educativo torna-se incomportável quando isolamos os miúdos mais pobres, sem acesso a computadores e, sobretudo, com pais sem capital cultural para substituírem os professores. O #ficaremcasa é um fator de empobrecimento de quem já é pobre cultural e materialmente falando. Dois #ficaremcasa aplicados à escola seria o equivalente a uma condenação social irreparável para um garoto mais pobre. Irreparável.

Manter as escolas abertas é a decisão certa. Sabemos que o vírus não mata crianças. Sabemos que o vírus não é transmitido com grande intensidade pelas crianças. Há um consenso científico desde que a Dinamarca abriu as escolas logo em Abril: fechar as escolas não é um factor determinante no combate à pandemia; a reabertura de escolas não está relacionada com o aumento dos casos; os casos que aparecem na escola têm o foco de infecção fora da escola e não dentro. Aliás, como salientou o primeiro-ministro, os picos da covid estão mais relacionados com os períodos em que os miúdos estão em casa (férias) do que com os períodos em que os miúdos estão nas escolas. Há que tirar os miúdos de casa, e não da escola. Há que tirar os miúdos de casa, e não da catequese e dos escuteiros.

Comentários
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  • Cidadao
    19 jan, 2021 Lisboa 16:04
    Algumas semanas de aulas perdidas facilmente recuperáveis, não comprometem futuros. Saúde arruinada ou mesmo Morte, isso sim, compromete o resto da Vida e o futuro
  • Margarida Azevedo Almeida
    16 jan, 2021 Porto 11:51
    A insistência nesta ideia no quadro do actual estado da pandemia representa um enorme risco. Fico com pena ao ler este texto. A defesa da vida deve ser a prioridade, Eventuais prejuízos ao nível da educação podem ser reparados uma vez controlada esta situação.. Uma sociedade que não protege os mais velhos e frágeis, não fazendo disso uma prioridade é uma sociedade doente.
  • Meia-vista
    15 jan, 2021 Só veem o que lhes interessa 08:34
    Na Escola não há só "crianças". Há adolescentes muito mais atacados pelas novas variantes do vírus, e principalmente, há auxiliares de educação e professores, muitos de idade avançada e cheios de patologias. E se não há professores sem alunos, também não há Escolas, sem professores.