14 mai, 2021
Deus deu-nos livre arbítrio para pensarmos e decidirmos. E uma das tristes lições da pandemia é esta: boa parte da população abdica num ápice desse livre arbítrio; há demasiada gente que deixa de pensar para se refugiar em teorias e mitos que garantem um ambiente 100% controlado e sem risco. Claro que a consequência desta abdicação é esse imenso vício chamado medo. Estou mesmo convencido que há pessoas que não conseguem agora sair da lógica do medo, porque o #ficaremcasa dava-lhes um lugar seguro e previsível na ordem das coisas.
Querem um exemplo? O Governo prepara mais uma aberração: a imposição da máscara na praia. Estou certo de que esta aberração contará com o apoio de muita gente, demasiada.
Contra esta medida, é preciso usar o livre arbítrio e dizer duas ou três coisas. Em primeiro lugar, é uma imposição draconiana do Estado na vida das pessoas; é um completo desrespeito, mais um, das nossas liberdades.
Em segundo lugar, é um desrespeito pela ciência. Leiam, estudem, informem-se: não existe qualquer justificação científica para a máscara na rua, muito menos na praia. Num ambiente batido pelo sol, vento e mar, é ridículo andarmos de máscara; está ao nível da superstição. Como dizia há dias um estudo citado pela "Atlantic", o vírus é 19 menos eficaz no exterior do que no interior. Repito: 19 (dezanove). Se adicionarmos o sol, o vento e o mar, este 19 só pode aumentar.
Mas, contra qualquer racionalidade, nós estamos a fazer exatamente o oposto: entramos num espaço fechado e propício ao vírus (um restaurante) e tiramos a máscara porque vamos almoçar com amigos; saímos para a rua e pomos a máscara. Lamento, mas está tudo ao contrário. Não estamos a seguir a razão, estão a seguir uma estranha etiqueta social.
Ao ar livre, o vírus só se torna um problema num megaevento como uma manifestação popular densa como as celebrações do Sporting. E, mesmo assim, é duvidoso afirmarmos que, por exemplo, as manifestações do #blacklivesmatter foram decisivas no avanço da epidemia. Os vírus respiratórios precisam de espaços fechados.
A imposição da máscara na praia é ainda mais ridícula quando o CDS americano está a dizer que a máscara deve ser abandonada até dentro de casa assim que a pessoa for vacinada. Quando chegarmos a julho e agosto, a parte da população mais idosa de Portugal já estará vacinada por inteiro. Então porquê esta imensa estupidez?
Ao imporem a máscara até na praia depois da festa do Sporting, o Governo e a DGS estão a cair no ridículo, por um lado, e estão a fomentar a cultura anti-científica, por outro lado, visto que estão a desconfiar implicitamente das vacinas – o contrário do que está a fazer a "DGS" americana.
A imposição da máscara na praia é uma medida arbitrária que não segue qualquer padrão de racionalidade científica. E torna-se ainda mais arbitrária depois da festa do Sporting. Aliás, a festa do Sporting é um evento decisivo. Se os números não subirem depois daquele mega ajuntamento, ficará então provado de uma vez por todas que a lógica draconiana do #ficaremcasa e das regras sanitárias impostas à população foram para lá do exagerado. Como disse aqui na Renascença na quarta-feira, a festa do Sporting não é revoltante pelo potencial perigo sobre a epidemia, que me parece diminuto. É revoltante porque mostra como as regras do confinamento têm sido arbitrárias e injustas, e essa injustiça torna-se ainda mais sufocante quando um setor (futebol profissional) pode fazer coisas que os outros não podem. Um adepto pode ter a liberdade total, mas um crente em Fátima já não pode ter essa liberdade. Porquê?