Siga-nos no Whatsapp
Henrique Raposo
Opinião de Henrique Raposo
A+ / A-

Forçar um médico a fazer um aborto é tão ofensivo como desumanizar homossexuais

02 jul, 2021 • Opinião de Henrique Raposo


O relatório que protege a liberdade dos homossexuais não pode ser o relatório que extermina a liberdade e a objecção de consciência dos médicos no aborto. A ideia de que um indivíduo não tem liberdade e objecção de consciência perante uma lei do estado é - em si mesmo - a base do pensamento ditatorial.

O tal relatório Matic tem duas faces, duas intolerâncias em jogo, mas, como sempre, só se fala de uma. Só se fala da intolerância que ataca o relatório; não se fala da intolerância do próprio relatório. Esta intolerância permanece escondida, pois até é vista como uma defesa da liberdade e da modernidade. Fala-se muito, e bem, da Hungria e do desrespeito pelos homossexuais e do choque entre essa ideologia homofóbica e os valores europeus. Acho bem. Mas não podemos esquecer que as ameaças à dignidade e à liberdade do ser humano não vem apenas do nacionalismo reacionário ou populista, chamem-lhe o que quiserem. O outro lado, o lado alegadamente progressista, também tem o seu lado lunar.

Não vou discutir de novo a questão do aborto. Vou apenas salientar o que está em jogo: com este relatório Matic, que poderá ser lei em breve, os defensores do "sim" mostram que já não ficam satisfeitos com a transformação do aborto numa espécie de direito; já não ficam satisfeitos com a normalização da prática. Agora também querem destruir a liberdade dos médicos objectores de consciência.

Ou seja, mesmo que permita o aborto, a lei de um país não pode proibir a objecção de consciência dos médicos. Há médicos que recusam fazer abortos, porque consideram essa prática imprópria. Têm esse direito. A lei não pode ser autoritária e extinguir a moral íntima de cada um. Há diferentes percepções sobre a questão e o lado vencedor, o "sim", não pode impor de forma autoritária a sua visão aos médicos que estão do lado do "não". Forçar um médico católico a fazer um aborto é como forçar um homossexual a ficar para sempre no armário da vergonha, é desumano, é intolerante. E o tal relatório Matic é assim: é intolerante, só vê um lado e considera que a liberdade de consciência de médicos e hospitais que recusam fazer abortos não passa de uma "clausura" que tem de ser destruída. Estes médicos, diz o relatório, devem obediência à lei e ao estado. Os deputados europeus repararam na enormidade que aceitaram como ponto de partida?

O alegado direito ao aborto não pode ser superior à liberdade de consciência de cada um, a começar na consciência dos médicos. O relatório que protege a liberdade dos homossexuais não pode ser o relatório que extermina a liberdade e a objecção de consciência dos médicos no aborto. A ideia de que um indivíduo não tem liberdade e objecção de consciência perante uma lei do estado é - em si mesmo - a base do pensamento ditatorial. É a ideia mais perigosa de todas: o indivíduo não tem direito a um espaço de divergência íntima em relação ao poder; temos de nos calar perante a lei do leviatã controlado por uma facção ideológica. Falta o quê depois disto? O fim do habeas corpus?

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • maria tiana
    09 jul, 2021 Lisboa 13:59
    Que comparação Sr. Raposo!... Há temas para o qual o Sr. deve estar calado. Sim, tem razão quando diz que é desumano forçar um médico a fazer um aborto, mas não pode comparar com a ofensa aos homossexuais. Os homossexuais também são desumanos e fazem questão de provocar e ofender todos os que não são como eles. E a maior ofensa que essa "gentalha" faz, é obrigar a Sociedade a cumprir as leis por eles impostas e forçadas por movimentos anti-humanos... É chocante e desumano as leis aberrantes que por aí circulam que têm como objectivo desumanizar a Humanidade. Sr. Raposo, desculpe que lhe diga, mas o senhor é um presunçoso à procura de teorias que lhe dêem fama. Lamento que a RR o tenha como comentador e que a Igreja Católica o chame para falar sobre NADA.... O seu catolicismo é tão hipócrita como escandalosa é a “ideologia de género”. A sua psicose centra-se em forçar o Homem a fazer as tarefas das mulheres. Defende de tal maneira as mulheres, que penso que a sua mulher deve passar o dia no sofá ou a dormir na cama e o Sr. Raposo a fazer as limpezas da casa... Já agora não contrate uma mulher de limpezas, mas um homem.... Esteja caladinho... E se falar ou escrever faça-o pela força da experiência... Nunca meteu as mãos na terra nem o trabalho o fez suar... Fala do que não sabe.... O que diz e escreve não enche barriga , mas provoca vómitos.
  • Joaquim Santos
    04 jul, 2021 Tojal 13:48
    Os fundamentos da perniciosa “ideologia de género” que se impõe na educação oficial pelas mãos de organizações supranacionais dependentes da ONU O professor mostra que essa "ideologia de género" produz uma frustração permanente em crianças em idade escolar que são forçadas a aceitar como normal e lícito o que é anormal e ilegal em si mesmo porque não é natural. A Maçonaria usa a "ideologia de género" para dinamitar a sociedade em uma luta feroz contra o Cristianismo, amputando os valores tradicionais da família cristã e tentando minar a taxa de natalidade dos povos com este planeamento familiar doentio. A alternativa contra esta desgraça contra a moralidade é a informação contundente e verdadeira do que realmente está cozinhando nessas formações supranacionais que realmente lideram as nações. A “ideologia de género” é o roteiro tomado por eles para a educação das nações.
  • Joaquim Santos
    04 jul, 2021 Tojal 13:44
    "Fala-se muito, e bem, da Hungria e do desrespeito pelos homossexuais " O Henrique também fala bem, mas é gago, esquece o fim ultimo: impor a Ideologia do Género, ideologia que o Henrique conhece e que nunca deu a conhecer aos Portugueses. Resumo feito por Alberto Bárcena: Há um PROJETO INTERNACIONAL ratificado e planeado em diferentes CIMEIRAS MUNDIAIS (Cairo, Pequim, Istambul, ...) patrocinado pela ONU. que busca, sob o manto do progressismo e da modernidade, suprimir não só os VALORES CRISTÃOS, mas OS VALORES NATURAIS que ameaçam a própria DIGNIDADE DO HOMEM E DA FAMÍLIA em particular. A IDEOLOGIA DE GÉNERO faz parte, portanto, do processo pelo qual estamos passando há décadas de ENGENHARIA SOCIAL ANTICRISTÃO, aceita por partidos políticos de diferentes signos que obedecem a slogans, e que tenta impor um PENSAMENTO ÚNICO a partir da criação de um NOVO MODELO DE FAMÍLIA, onde, por exemplo, a proibição dos pais interferirem em matéria de educação dos seus filhos, a mudança dos PAPÉIS DE GÊNERO, O CRIME DO NÃO NASCIDO, etc ... tudo isso habilmente enquadrado em um suposto mas pernicioso benefício humano que não é outro senão a REDUÇÃO DA POPULAÇÃO às custas de um diabólico DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, pelo qual leis degradantes e leis anti-naturais são injectadas nos GOVERNOS DAS NAÇÕES. A IGREJA CATÓLICA é praticamente a ÚNICA ESCOLA para essa ideologia de género. Portanto, existe um PLANO com meios e um OBJECTIVO a ser alcançado por estes ENGENHEIROS SOCIAIS.
  • Ivo Pestana
    02 jul, 2021 Funchal 12:30
    Os médicos fazem o seu juramento, no final do curso e lá dizem fazer tudo para salvar vidas.
  • Maria Oliveira
    02 jul, 2021 Lisboa 09:53
    O tal lado progressista de que fala Henrique Raposo, é profundamente intolerante e próprio de regimes totalitários. Não são progressistas, são retrógrados.