21 jan, 2022
Os confinamentos impostos às populações tiveram óbvias consequências físicas e psicológicas. Óbvias, esperadas e anunciadas por aqueles que recomendaram mais sensatez à deriva proibicionista do #ficaremcasa. As famílias foram e continuam a ser submetidas a uma pressão extra que corrói e destrói. O resultado está aí à vista: uma subida histórica do número de divórcios.
Há dias a “Sábado” dizia que em Portugal por cada 100 casamentos houve 90 divórcios em 2020, e que se registou um número recorde num único ano: 17 mil divórcios. E falta 2021, que tem tudo para ser pior ainda.
Ao ler esta notícia, fiquei a pensar numa ideia triste que tenho explorado: os filhos de casais que permanecem casados são cada vez mais uma espécie de minoria. A percentagem de divórcio é tão alta que o novo normal é de facto a separação e a vida em casas diferentes. Aliás, não estou a brincar quando digo que faço parte de uma minoria, sou casado e tenho filhos. E quem é que me defende? Quem é que defende esta grande minoria, os que permanecem casados e que têm filhos? Ou seja, quem é que nesta campanha está preocupado em tornar a vida dos casais mais fácil? É um dos temas centrais aqui destas minhas colunas católicas e familiares da RR: no Portugal do século XXI, manter um casamento com filhos tornou-se muito difícil. E os números, agravados pela pandemia, estão aí: baixíssimo número de filhos por mulher/casal, uma sociedade de filhos únicos, alta taxa de divórcio. Quem está preocupado com a defesa, por exemplo, da jornada contínua à alemã, uma medida que facilitaria a conjugação da vida profissional com a vida familiar? Como é que continuamos a sair do trabalho às 18h, 19h? Como é que o trânsito do Grande Porto e da Grande Lisboa ainda está apinhado às 20h? Como é que se constrói uma família equilibrada neste rolo compressor? E quem é que está a defender uma política fiscal que beneficie de facto a natalidade?
E o que dizer dos nossos filhos? Quem os representa? Quem é que tem coragem para fazer política centrada no futuro? Quem são os políticos que têm coragem para dizer que as pensões de reforma das pessoas já reformadas não podem subir mais, pois esses aumentos põem ainda mais em causa as reformas dos mais jovens no futuro. Os nossos filhos, que começarão a trabalhar e a descontar daqui a 5, 10 ou 15 anos, deveriam ter um óbvio direito: fazer os seus descontos de segurança social para outro sistema, já que este está absolutamente falido. Alguém fala disto? E não estou apenas a falar das reformas de um futuro longínquo. As reformas de quem tem agora 50 anos também não estão no radar da política e só estão à distância de quinze anos. Um aumento da reforma de quem tem agora 70 anos é feito à custa de uma parcela da futura reforma de quem tem agora 55 anos. Já nem falo do meu caso, com 43, ou de pessoas ainda mais novas.
Portugal envelheceu demasiado. Com o passar dos anos, a política e a própria sociedade deixaram de ter energia para impor reformas e mudanças que defendam o futuro, porque de facto esta não é uma sociedade que pensa no futuro. Uma sociedade assim, com uma taxa de divórcio tão alta e com uma taxa de natalidade tão baixa, é uma sociedade em suicídio colectivo e sem uma noção de futuro. Pensar e agir em nome dos filhos e, portanto, do futuro será cada vez mais uma atividade minoritária e silenciosa?