07 out, 2022
Há dias, numa conversa sobre fé, comecei a falar da diferença entre a abordagem dominicana e a abordagem franciscana. O meu interlocutor teve um desabafo sincero: "Mas estás a falar do quê?". Por vezes, deixamo-nos mesmo levar por discussões teóricas que acabam por secar o fundamental. É por isso que neste ano de crónicas aqui na Renascença irei seguir a grelha da catequese das minhas filhas. As perguntas mais simples são muitas vezes esquecidas pelas tais bizantinices.
A primeira pergunta que elas têm pela frente na catequese é esta: porque é que eu gosto de Jesus?
Em primeiro lugar, gosto de Jesus precisamente porque ele simplifica tudo e responde sempre com o concreto e nunca com ideias abstratas e desumanas. Ele seria o primeiro a rir-se do meu excesso de pedantismo teológico.
Em segundo lugar, gosto de Jesus porque ele dá importância a quem à partida não tem importância. As contas do Reino são diferentes das contas do mundo dos homens. Ele dá importância às crianças, para começar. Ele ouve as crianças quando não é suposto fazê-lo. Ele sabe que muitas vezes é preciso olhar para o mundo com o interesse e a simplicidade de uma criança - um olhar limpo das manias e modas de cada momento. Ele também dá importância às mulheres, que, na época, também não tinham lugar de destaque. Não me lembro de uma passagem do Evangelho em que Jesus seja crítico ou duro com uma mulher. Quando uma mulher interrompe uma conversa entre homens, profanando assim os códigos sociais, Jesus ouve essa voz feminina e manda calar os homens.
Ele dá importância aos pobres, aliás, Ele começa por nascer entre os pobres dos pobres, os pastores, que eram desprezados por todos. Para terminar, ele até dá importância aos pecadores e aos alegados vilões, os cobradores de impostos, por exemplo.
É por isso que eu gosto de Jesus. Ele ouve quem à partida não tem voz reconhecida pelo mundo. As crianças, as mulheres, os pobres e os pecadores podem não ter voz no mundo dos homens, mas têm voz no Reino. Tudo o resto, a começar na diferença entre o intelectualismo dominicano e o empirismo franciscano, é secundário e vem depois. Se me esquecer disto, nada importa.