14 out, 2021 • Eunice Lourenço (Renascença) e Liliana Borges (Público)
Foi a voz que apresentou a moção sectorial do secretário-geral do PS e substituiu o primeiro-ministro durante as férias. No congresso socialista fez parte do friso reservado a eventuais sucessores de António Costa.
Para já, Mariana Vieira da Silva, ministra do Estado e da Presidência, não traça o fim do futuro político de Fernando Medina, outro possível concorrente à sucessão de António Costa, nem quer falar de remodelação.
Um cenário de que se fala recorrentemente é de remodelação. O primeiro-ministro diz que com o Inverno vem um refrescamento. Foi ironia ou depois do OE é tempo de refrescar?
Essa é aquela pergunta que é muito fácil para qualquer pessoa que não seja o primeiro-ministro. A competência da constituição do Governo é única e exclusivamente do primeiro-ministro e é a ele que cabe decidir o que fazer, se fazer, como fazer. A essa pergunta não tenho nenhuma resposta.
Nas discussões do OE há sempre notícias de divisão dentro do Governo. Há uns anos tivemos o ministro da Saúde a dizer "somos todos Centeno". Agora são todos Leão?
É evidente que há um momento em que do conjunto e das disponibilidades que tem cada um deve defender o interesse das áreas que representa. E esse equilíbrio é feito em debate, não é feito ao acaso nem com um consenso que se geraria por mero acaso. Nem sempre é fácil mais faz parte. E ao longo da história muitas crises muito sérias decorreram desse debate. É o normal da vida política.
Mas esse debate interno chegou a ter expressão pública com o ministro Pedro Nuno Santos manifestou alguma impaciência.
Faz parte da vida política. O pragmatismo implica saber que é assim. Há sempre dimensões públicas.
Não foi uma falta de solidariedade governamental?
O que importa é chegar ao fim com um orçamento entregue e com os problemas que identificamos resolvidas. É inquestionável que na ferrovia têm sido anos de investimento como há anos não se via.
E o que é que responde a quem diz que parecemos viver um clima de fim de ciclo?
Eu julgo que um pós-crise é sempre um momento muito difícil. Vivemos concentrados num único assunto, agora confrontamo-nos com o resto da vida a acontecer, com os problemas que ficaram para trás, com as aprendizagens que ficaram por fazer, com as consultas que ficaram por fazer - para dar dois exemplos muito na ordem do dia - e isso também é verdade nas nossas vidas. Há um bocadinho essa sensação. Agora, o que importa saber é quem é que tem as respostas de que o país precisa agora. Quem é que oferece as melhores respostas para os desafios que o país tem. E, sou suspeita, é certo, mas aquilo que vemos no debate político é que é o Partido Socialista e é o governo do Partido Socialista que tem essas respostas, que tem esse equilíbrio entre a recuperação e o futuro. De resto vejo muitas críticas e poucas alternativas.
Num próximo ciclo, agora ou mais tarde, vê-se a assumir a pasta da Educação?
Julgo que essa conversa do futuro de cada um não é uma conversa que me mova particularmente. Eu tenho um conjunto de desafios muito importantes neste Governo, até porque coordeno aqueles dois desafios estratégicos das desigualdades e da demografia, e estou muito bem nesse papel.
E também se sentiu muito bem no papel que chegou a desempenhar de primeira-ministra em funções?
Foi uma quinzena difícil, devo dizer. Mas como em todas as organizações, há sempre um período em que todos têm o direito ao seu descanso e há sempre quem os substitua. E eu aquilo que espero sempre é cumprir as minhas funções e as tarefas que me cabem com qualidade e com empenho.
Vê-se a desempenhar esse cargo não em regime de substituição?
Eu julgo que essa conversa já teve o seu tempo no passado mês de agosto. É para mim claríssimo que o presente e o futuro do país e do PS é António Costa.
Saindo da área governamental, como dirigente do PS, que avaliação faz do resultado das autárquicas?
Nós dissemos sempre qual era o critério e como é que definíamos uma vitória eleitoral. E foi sempre este o critério que definimos: quem tem mais câmaras e chega ao ponto de poder eleger a Associação Nacional de Municípios; quem tem mais freguesias e chega ao ponto de poder presidir à ANAFRE. Esses dois critérios, que são os critérios que sempre definimos, foram critérios onde ficou claríssima a vitória do Partido Socialista e, portanto, é nesse quadro que avalio as eleições autárquicas. Cabe-nos também olhar para os sinais, que foram dados em algumas zonas do país, de que as pessoas esperam mais respostas e é isso que nos cabe fazer. Não desvalorizo nenhum resultado, até por formação é preciso perceber o que é que acontece no país, quais são as preocupações dos mais jovens, dos mais velhos, como é que eles se posicionam perante esta saída da crise, e procurar as respostas. Julgo que essas são as lições que internamente cada partido tem de tirar. O Partido Socialista certamente tira.
E o Governo também tirará?
E o Governo também tirará.
Um momento da noite eleitoral, e que acabou por ditar um bocadinho da leitura das autárquicas, foi o PS ter perdido Lisboa. Acha que o futuro político de Fernando Medina fica comprometido com esta derrota?
O Partido Socialista tem muitos quadros que podem desempenhar muitas funções, entre eles e entre os seus melhores está certamente o Fernando Medina. A política não é um jogo de futebol. O povo avalia em cada momento e faz as suas escolhas, e essas escolhas não menorizam todo o trabalho que eu creio que é visível e reconhecido por muitos, mesmo alguns que agora escolheram mudar o trabalho que foi feito em Lisboa pelo Fernando Medina. E todas as capacidades que ele tem. O futuro está à frente dele certamente.