20 mar, 2019 • Redação
Henrique Raposo considera que as declarações Joana Marques Vidal sobre o assalto a Tancos são "importantíssimas" e "revelam que há um clima hostil, de desconfiança aberta entre o Estado de direito civil e o Estado de direito militar".
"Temos uma figura que tem um grau de confiança da população enorme a desancar de alto a baixo na Polícia Militar", diz o comentador, sobre as declarações da antiga procuradora na comissão de inquérito ao furto do material militar de Tancos.
Joana Marques Vidal criticou a atuação da Polícia Judiciária Militar (PJM) na investigação do caso, afirmando que a PJM andou a investigar de forma ilegal. A antiga procuradora sugeriu ainda que se faça um estudo para avaliar se faz sentido a existência da Polícia Judiciária Militar.
"Ela põe em causa a própria existência desta Polícia Militar e argumenta com coisas muito sólidas", diz Henrique Raposo. Por exemplo, "estes casos não são julgados em tribunais militares, são julgados em tribunais civis, normais, portanto, também não faz sentido haver uma polícia militar autónoma".
"Se calhar o nosso exército não tem dimensão para ter um Estado de direito paralelo", acrescenta o comentador.
Já Jacinto Lucas-Pires admite que o papel da Polícia Judiciária Militar pode ser "repensado", mas, alerta, "é preciso não confundir instituições com pessoas". "Corremos o risco de, perante pessoas aparentemente incompetentes para o cargo que desempenham, estarmos a julgar todo o sistema", afirma.
Os dois comentadores da Renascença abordaram ainda a tragédia em Moçambique, após a passagem do ciclone Idai. Henrique Raposo defende a mobilização dos portugueses para ajudar nesta tragédia humanitária. "Estamos um pouco escaldados com aquilo que se passou nos incêndios, mas acho que devemos ajudar", diz.
Raposo lembra que "há muitas empresas portuguesas em Moçambique" e dá como exemplo a Galp. "A Galp tem um plano de investimento extraordinário em Moçambique, está a ganhar muito dinheiro e tem o dever moral de ajudar de imediato os moçambicanos", diz.
Jacinto Lucas-Pires adverte para a necessidade "de haver um plano que funcione" para que a ajuda chegue a quem mais precisa.