01 abr, 2020
Jornalismo pode estar em crise por falta de receitas de publicidade, mas os comentadores da Renascença Jacinto Lucas Pires e Henrique Raposo não escondem as reservas em relação a apoios governamentais, que podem colocar a independência do setor em causa.
Henrique Raposo diz que "jornais livres são mais importantes para a liberdade de um país" do que eleições livres. No entanto, encontra dificuldades em equacionar os moldes de um apoio estatal ao setor.
"É difícil definir que tipo de apoios o Governo dá aos jornais, porque coloca em causa a nossa independência. É difícil estabelecer essa alquimia, da forma de apoio que percebo que seja preciso nesta altura", começa por dizer.
O comentador da Renascença, no espaço de opinião no programa "As Três da Manhã", explica que este poderá ser a altura certa para "terminar com a injustiça" do Google e do Facebook, em relação às receitas de publicidade.
"Os governos ocidentais devem unir-se para proteger o jornalismo do Facebook e Google, que roubam e vivem do nosso trabalho. Nós trabalhamos, mas as publicidades vão para eles. Eu escrevo uma crónica, é lida por milhares de pessoas, mas a publicidade vai para o Google e não para a Renascença. Há esta perversão do sistema, temos de aproveitar o momento para acabar com esta injustiça, caso contrário só vamos ter imprensa estatal no futuro", prevê.
Jacinto Lucas Pires concorda com Henrique Raposo e acredita que a situação de exceção exige apoios governamentais para assegurar o funcionamento da imprensa.
"O jornalismo é um bem essencial num Estado de direito. Acho que se justifica que haja apoio público excecional aos meios de comunicação social. Em tese, não sou favorável a apoios públicos ao jornalismo, mas é um caso de exceção, é necessário. Nestas horas difíceis é que se vê a importância de um jornalismo sério, livre e plural. Defender um estado de direito é apoiar o jornalismo", aponta.
Marcelo Rebelo de Sousa anuncia na quinta-feira uma decisão sobre o prolongamento do estado de emergência. Jacinto Lucas Pires acredita que estamos "a meio da maratona", que é a fase mais complicada, mas não acredita que as medidas precisem de ser agravadas.
"O meio da maratona é sempre o mais difícil, porque perdemos a energia do começo e não vemos a meta à vista. Acho que não é o caso para reforçar medidas mais graves. Daqui a 15 dias podem ser novamente repensadas, também", diz.
Henrique Raposo recorda as palavras de António Costa e concorda com Jacinto Lucas Pires, alertando ainda para os perigos de um otimismo exagerado.
"Temos de guardar algumas 'armas' para caso a situação piore. Não é preciso reforçar nada, mas também acho que é cedo para entrar num otimismo exagerado. Ouvi dizer que pela nossa posição geográfica tivemos sorte e tempo para tomar as medidas mais cedo, que até foram tomadas pela sociedade antes do estado. Parece-me interessante que o Costa diz que se as coisas continuarem a correr razoavelmente bem, poderemos voltar a uma certa normalidade, como abrir as escolas, mais cedo do que esperávamos", remata.