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“A grande diferença está em aumentar o rendimento de forma mais ou menos definitiva face a preços"

João Duque n'As Três da Manhã

Aumento do rendimento tem de ser "de forma mais ou menos definitiva face aos preços"

05 set, 2022


O economista João Duque analisa, n'As Três da Manhã, as possíveis medidas que o Governo poderá anunciar esta segunda-feira para responder ao aumento da inflação

O comentador d’As Três da Manhã analisou esta segunda-feira as potenciais medidas de combate à inflação a serem anunciadas hoje pelo Governo para ajudar as famílias, nomeadamente a atribuição de um cheque de 100 euros para as mais carenciadas e também da classe média.

“Faz sentido, naturalmente, quem é que não gosta de receber um cheque de 100 euros”, questiona João Duque, salientando contudo que o mais importante é “por quanto tempo” será aplicada a medida de apoio.

A taxa de inflação terá tido uma ligeira desaceleração dos 9,1% em julho para os 9% registados em agosto, de acordo com a estimativa do Instituto Nacional de Estatística (INE). Apesar da ligeira desaceleração, esta continua a ser a maior subida de preços homóloga em várias décadas.

“Aquilo que nós estamos à espera é que os preços não venham a baixar no futuro. E se os preços não vierem a baixar no futuro, nomeadamente os produtos alimentares, então vão manter os 100 euros para sempre? Porque não me lembro de subidas tão elevadas de preços seguidas de descidas tão elevadas”, defende o comentador.

A descida do IVA nos produtos é uma das medidas que considera possível, mas reitera que é necessário “manter para sempre” ou em alternativa “aumentar as pensões, os salários, etc. para fazer face à carestia de vida”.

Sobre a possibilidade de uma redução da retenção na fonte, o comentador defende que “não serve de nada”, explicando que “serve para fazer um ajustamento num período em que continuamos a sofrer forte inflação e vamos pagá-lo mais tarde”, o que não se traduziria numa grande diferença.

“A grande diferença está em aumentar o rendimento de forma mais ou menos definitiva face aos preços, que eu não prevejo que venham a diminuir 7% no ano que vem, em média”, acrescenta.

Para João Duque, é necessário fazer um aumento que se prolongue no tempo, aumentando assim o rendimento de forma mais ou menos sustentada.

Analisando o cabaz de bens que compõe o índice do INE, o comentador relembra que este “é mais afetado pelo índice preços na área alimentar” e que estes “preços dependem do preço do produtor”.

“Ora, quando os agricultores portugueses ainda estão à espera de pagamentos de promessas de maio deste ano, como é que nós queremos que os agricultores diminuam os preços na produção? E, portanto, não é possível. Primeira coisa, o Governo devia pagar aquilo que disse que ia pagar aos agricultores em maio, o que não fez em maio, em junho, em julho e em agosto para, pelo menos, por essa via, tentar precaver o aumento de preços da área alimentar.”

Sobre a possibilidade de adoção de medidas que sejam facilmente revertidas, como sugerido pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, João Duque relembra que “há aqui um truque”.

“Quando a inflação baixar, por exemplo, para zero, isso significa que os preços do cabaz se mantiveram estáticos para sempre, portanto, dou agora alguma coisa e depois digo assim: ‘agora a inflação é zero e vou tirar’, isto é uma falácia”, conclui.

O Governo reúne-se, esta segunda-feira, em Conselho de Ministros extraordinário para aprovar um pacote de medidas de apoio ao rendimento das famílias que visa responder ao contexto atual de inflação e aumento do custo de vida.

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