29 dez, 2022 • Olímpia Mairos
O economista João Duque, comentador d’As Três da Manhã, considera que o caso que envolve a ex-secretária do Tesouro e a TAP e já levou à saída do Governo do ministro das Infraestruturas e da Habitação “faz muita impressão”, porque, na hora da demissão, o ex-ministro disse que só agora soube dos termos do acordo de indemnização, apesar de ter sido autorizado pelo seu ministério.
“Acho que há aqui uns narizes que vão crescendo, devagarinho, todos os dias, porque é muito pouco crível que alguém que esteve tão envolvido na constituição de uma equipa de administração da TAP não soubesse que a senhora saísse e quais as razões e os termos da saída”, atira.
“E mais: sabendo que a senhora, ao que parece, saiu, afinal, porque foi corrida pela administração... Alguém que sabe isso, deixa que depois a TAP comunique uma informação diferente ao mercado e que seja conivente com essa 'não verdade'... Torna-se um bocadinho difícil... E alguém que, de logo a seguir, nomeia a senhora, a ex-secretária de Estado para presidente de NAV deve saber primeiro porque é que ela saiu do anterior mandato para lhe dar a confiança total, técnica e, digamos, política para esse cargo”, acrescenta.
Para João Duque, “há aqui uma história que não convence ninguém. E o ministro acha que fica insuportável poder conviver com esta inconsistência, digamos assim, de acesso a informação”, sublinha.
Questionado sobre se ainda será de esperar novos capítulos, por exemplo, no Ministério das Finanças, porque o ministro Fernando Medina, também não saberia de nada, apesar de ter convidado Alexandre Reis para o Governo, João Duque diz que “é muito estranho que um ministro não pergunte a outro ministro qual é que é a carreira e o passado desta pessoa”.
Já sobre o pedido de vários partidos para que Marcelo Rebelo de Sousa avalie se o Governo tem condições para continuar em funções, até porque ao longo de todos estes meses tem sucedido os casos e as demissões, o comentador lembra que Jorge Sampaio a demitiu um Governo por “uma sucessão menor de trapalhadas do que aquela que estamos a assistir agora”.
“Pode sempre invocar-se razões de estado e de estabilidade, de interesse e de, enfim, a expectativa de que havendo eleições, se manteria o mesmo quadro parlamentar, não havendo a necessidade de a dissolver-se e dissolver o Governo e convocar eleições”, assinala.
No entanto, Duque nota que “aquilo que se está a passar é de grande instabilidade”.
“Para mim, do ponto de vista económico financeiro o mais preocupante é perceber-se que não há, se calhar nunca houve, uma linha de rumo em termos económicos, mas havia em termos financeiros, nós sabíamos bem que havia uma grande determinação no controlo do défice e agora na diminuição da dívida e que a instabilidade do Ministério das Finanças e do Governo pode pôr um bocadinho isso em causa”, conclui.