06 jul, 2023 • Sérgio Costa , Olímpia Mairos
Na análise à entrevista de Teixeira dos Santos à Renascença e ao Jornal Público, em que o ex-ministro das Finanças de José Sócrates defendeu que, se possível, com folga orçamental, seria desejável baixar o IRS, o comentador d’As Três da Manhã considera que “há condições” para o fazer.
“Há condições, isto é, a política monetária que está a ser conduzida pela senhora Lagarde olha para a Europa como um todo e cada país deve ajustar, através dos seus instrumentos, essa política às necessidades do país”, defende.
Segundo João Duque, Portugal está a “convergir muito mais rapidamente que o centro da Europa para o desejado nível de inflação dos 2%”.
“Imagine-se que nós até convergimos ainda mais rapidamente e que descemos abaixo dos 2% e a Europa continua ainda a fazer um esforço para acomodar as medidas e fazer que a inflação baixe no centro da Europa. Se for assim, isso vai prejudicar-nos seriamente, porque nós temos condições diferentes no país”, sublinha.
O economista lembra ainda que “nós temos mais gente endividada à banca e mais famílias endividadas a taxa variável do que muitos dos países do centro da Europa”, advertindo que “isto faz toda a diferença, porque lá [centro da Europa], a forma como as medidas estão a ser tomadas vão ser transmitidas à economia mais lenta do que aqui. Portanto, muito provavelmente, nós vamos ter espaço para tentar evitar uma desgraça social”.
Questionado sobre a crítica de Teixeira dos Santos a António Costa, por criticar Christine Lagarde por manter esta política anti-inflacionista, João Duque subescreve, justificando que “Lagarde está a fazer o papel dela, que é olhar para a Europa e centrar as medidas que tem que tomar para o problema da Europa”.
“Cada país, depois, deve ajustar aquilo que são as políticas orçamentais. O orçamento serve para isto, para fazer política, no caso, política social ou política fiscal ou as duas e, portanto, através de transferências ou através da redução do imposto do IRS, IRC, o que for, a tomar as medidas necessárias para que Portugal não entre numa recessão à custa das medidas centrais, tomadas pela senhora Lagarde”, explica.
“E são coisas completamente diferentes. E estar a misturar as coisas é, como diz Teixeira dos Santos, cair no populismo fácil”, acrescenta.
Já sobre a opinião de Teixeira do Santos que considera que o Governo não está ou está a desperdiçar a maioria absoluta, João Duque partilha com “pena” a “mesma ideia”.
“Nós não estarmos a fazer o caminho que devíamos fazer. Quando há esta estabilidade parlamentar, que dá toda a facilidade a um Governo governar, deixou-se enlear e cair numa série de ratoeiras que o levam a perder tempo. E os ministros perdem tempo sucessivamente com os chamados casos e casinhos e a responder aos parlamentos, etc., à custa de coisas que são quase praticamente ‘faits-divers’”, conclui.