24 out, 2024
João Duque, comentador da Renascença, considera que a violência no Bairro do Zambujal, consequente da morte de Odair Moniz, "não serve a ninguém, apenas a algumas forças políticas com discursos inconsequentes".
"Estes episódios ajudarão apenas algumas forças políticas a ganhar popularidade num discurso inconsequente e, a meu ver, errado. Não ajudará o país que tem esta característica de dizer que recebe bem, mas aparentemente deixa estas bolsas que não são tratadas", disse.
O economista desenvolver a ideia e deixa questões: "Ao entrar num bairro destes, vemos logo que é diferente, a própria arquitetura. Porquê que os jardins são diferentes nestes bairros? Não é uma característica só nossa, infelizmente, mas existe".
Duque concorda que, "infelizmente, parece que é verdade" a teoria que não é dada suficiente atenção aos problemas dos bairros, confirmando uma tendência antiga em relação ao país.
"Parece que em Portugal chega tudo com algum atraso. Antigamente dizia-se que eram 20 anos, agora devem ser só 10. Este tipo de violência que vemos noutros países finalmente chegou cá. Digo finalmente com algum desagrado, porque Portugal tem merecido o reconhecimento de comportamentos brancos e de uma grande capacidade de integração de culturas diferentes", explica.
O comentador, no entanto, já discorda com quem caracteriza a violência no Bairro do Zambujal como algo "episódico".
"Acho que já não é e, por isso, temos de trabalhar de forma muito ativa para desmontar e fazer o melhor possível para reintegrar estas pessoas, se é que já não se sentem integradas", explica.
Conclui: "Por exemplo, hoje começa a greve da CP e as pessoas destes bairros são as que mais sentem a greve porque não têm alternativas, perdem muito mais tempo, sofrem muito mais do que o cidadão médio, que provavelmente terá um meio próprio para chegar ao trabalho".
Odair Moniz, 43 anos, cidadão cabo-verdiano e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Desde a noite de segunda-feira foram registados desacatos no Zambujal e noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados dois autocarros, automóveis e caixotes do lixo, e detidas três pessoas.