12 mar, 2021
Ainda em plena pandemia, é natural que, do ponto de vista económico, as atenções estejam monopolizadas pelos múltiplos problemas que enfrentamos no curto prazo e que são gigantescos, principalmente a paralisia de empresas de alguns sectores importantes que não podem funcionar, em particular no domínio dos serviços, o aumento do desemprego e a perda de rendimentos que muitas famílias estão a sofrer. Estes problemas atingiram uma tal dimensão que outras preocupações, de carácter mais estrutural ficaram compreensivelmente para segundo plano. Mas embora seja natural que isso suceda, a verdade é que continuamos a ter futuro e é muito importante, agora que temos legítimas esperanças que a pandemia possa ser controlada dentro de alguns meses através da vacinação, olharmos para as nossas capacidades de crescimento económico a médio e longo prazos.
O nosso maior problema é (continua a ser) a qualificação das pessoas: apesar do grande esforço que, nas últimas décadas, foi feito no ensino e (em menor escala) na formação profissional, continuamos a ter em enorme défice nesta matéria, onde estamos em último lugar dentro da União Europeia e quase último na OCDE.
Já vai longe o tempo em que se podia ter um crescimento económico rápido na Europa com níveis de qualificação baixos, como tivemos nos anos sessenta do século passado. Hoje, com a globalização, tal já não é possível.
Por isso, temos de encarar o nosso futuro com realismo, sem ilusões, mas também sem derrotismo. Depois de controlada a pandemia e passado um período de transição em que terão de ser desmanteladas as medidas de política económica que tiveram de responder à emergência, teremos desejavelmente um período de crescimento, embora o nosso défice de qualificações não permita que vá ser um crescimento muito rápido. O que devemos sim é, desde já e principalmente nesse período que se antevê de crescimento moderado, aumentar o nosso investimento na qualificação das pessoas. Para isso não é dinheiro que nos falta: é capacidade de organização e de atribuição de verdadeira prioridade a este objectivo. Só assim estaremos em condições de a prazo mais longo voltarmos a ser um dos países europeus que mais crescem.