30 dez, 2022
Chegando ao fim do ano, as perspectivas económicas para 2023 ocupam economistas e meios de comunicação social. Para os economistas, a tarefa está mais complicada que o usual. Isto por duas ordens de razões:
- em primeiro lugar, a situação económica global estará dependente de duas circunstâncias não directamente ligadas à economia. Trata-se, evidentemente, em primeiro lugar, da guerra na Ucrânia resultante da invasão russa, que será o factor mais importante a condicionar a futura evolução económica. O agravamento da guerra durante 2023, se vier a suceder, para além de significar a morte de muitas pessoas inocentes terá um efeito muito negativo na evolução económica global. Mas também é verdade que se for possível um cessar-fogo ou, pelo menos o começo de negociações de paz sérias, tal terá um efeito altamente positivo no clima económico global. Um outro factor não económico, mas também muito relevante, será o impacte do alastramento da COVID -19 na China, que poderá ter efeitos negativos sobre o funcionamento da economia chinesa e portanto sobre a economia global.
- em segundo lugar, um factor que tem a ver com a política monetária da zona euro e portanto com o Banco Central Europeu. A inflação é legitimamente a principal preocupação do BCE porque assim o estabelecem os seus estatutos, mesmo que não se concorde com eles, como é o meu caso. O BCE, depois de um período de indecisão relativamente à forma de combater a inflação, vem agora informar que vai continuar a aumentar a taxa de juro e, ao mesmo tempo, reduzir as compras de dívida pública dos estados membros. Aumentar a taxa de juro é compreensível, embora, dado o alto nível de endividamento das famílias em muitos países da zona euro, tenha de haver uma grande prudência nesse aumento. Mas já a diminuição das compras de dívida pública pode ser muito negativa, uma vez que não tem efeitos directos sobre a inflação (tem apenas efeito no aumento das taxas de juro das dívidas públicas) mas pode cavar ainda mais o fosso entre países endividados e países não endividados da zona euro.