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José Luís Nunes Martins
Opinião de José Luís Nunes Martins
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Explorados, cansados, sem pausas nem paz

16 fev, 2018 • Opinião de José Luís Nunes Martins


Quem não descansa, destrói-se, e os que não conseguem acompanhar este ritmo, sentem-se fracassados.

A nossa sociedade é implacável. Somos obrigados, através de uma sedução subtil, a uma atitude sempre muito produtiva e otimista.

O que fará pior ao nosso coração do que um falso otimismo, com que temos de nos mascarar todos os dias? Queremos com isso agradar aos outros, que também estão a fazer o mesmo, mas nós julgamos que lhes é natural!

Os nossos dias estão cheios de coisas. Transbordam de obrigações. Há estímulos a cada minuto e uma infindável cascata de informações sem importância que desviam a nossa atenção do que quer que estejamos a fazer.

É difícil concentrarmo-nos, cumprirmos uma tarefa do princípio ao fim, a nossa atenção parece estar condenada a fragmentar-se.

O pior é que deixamos de ter tempo para parar, descansar e nos fortalecermos.

Querem-nos escravos e a remar, todos no mesmo sentido. Os rebeldes são maus, apenas por serem rebeldes. Bom é ser igual. Todos querem ser diferentes uns dos outros, mas variações de uma mesma base. Até as diferenças são iguais. Perde-se a autenticidade. A originalidade. O caráter único de cada um de nós. Porque temos medo de ser... rebeldes.

Sonhamos sonhos produzidos por outros, compramo-los e julgamo-los nossos. Anestesiados, achamos que vamos na direção do bem, mas vamos a caminho do precipício, sorrindo e cantando, convictos que nos estamos a esforçar em vista do melhor...

Condenamos os que não fazem nada do que é moda, que não produzem o que é considerado valioso, acusamo-los de serem infelizes e de viverem sem objetivos. Nunca julgamos que talvez sejam eles que experimentam a vida como ela é... e nós, que não percebemos isso, apenas nos enganamos com uma cegueira voluntária face ao que é a verdade.

Quem não descansa, destrói-se, e os que não conseguem acompanhar este ritmo, sentem-se fracassados.

O tempo voa, foge... e há cada vez mais pessoas a viver a uma tal velocidade que não têm presente, apenas passado, contínuo e sem fim. Exploram-se a si mesmas, escravizam-se. Não se respeitam. Não reconhecem e aceitam os seus limites. Chamam motivação à voz agressiva que vive dentro de si e os obriga a produzir sem parar, aquilo que outros hão de comprar, por lhes ter sido injetado um desejo artificial.

Estamos cada vez mais perto de todas as lojas do mundo, mas cada vez é maior a distância até ao nosso mundo interior. Compramos o que dizem que precisamos e deixamos ao abandono os valores e desejos que são os pilares da nossa identidade.

Para que serve ganhar o mundo se nos perdemos a nós?

Faltam-nos silêncios.

Precisamos muito daqueles vazios onde criamos o belo, o autêntico.

Falta-nos paz.

Acalmar e dormir descansado é o princípio da verdadeira paz. Depois, amar. Concretizado a cada dia, mais pelo desapego e a renúncia do que por qualquer tipo de cobiça, conquista ou posse.

Comentários
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  • Manuela
    28 fev, 2018 Coimbra 16:12
    Ainda bem que vejo alguém escrever sobre a vergonha que assola a maior parte dos portugueses! Patrões e instituições "gananciosos", que só vêm os lucros a frente e tudo o que conta é o dinheiro, custe o que custar e venha quem vier, passam por cima de toda a gente! Tenho vergonha desta espécie de humanos, que sujam a imagem de Portugal, a reputação dos portugueses e fazem dos nossos "corajosos" portugueses, que precisam colocar o pão na mesa, os novos escravos de hoje! Onde estão as leis que protegem o cidadão, o trabalhador? 😟😢
  • Gonçalo S. de Mello
    25 fev, 2018 Braga 12:57
    Concordo. Mas nada que a filosofia da crítica da razão instrumental não denuncie há décadas. E mais recentemente com mediatismo o filósofo sul-coreano BYUNG-CHUL HAN nao tenha dito. Mas quantos mais falarem melhor.
  • Dulce Silva
    20 fev, 2018 Leiria 08:45
    Lá está. Algo que tanta gente pensa e não diz. Bem haja pela voz que nos avisa.
  • MASQUEGRACINHA
    16 fev, 2018 TERRADOMEIO 17:26
    Se o Ferraz da Costa o lesse, rosnaria "baboseiras!". Mas não há perigo, não o vai ler de certeza. Eu gostei de o ler, pareceu-me menos etéreo do que é costume... mas, como sempre, puramente descritivo, embora poeticamente descritivo. É tudo assim como diz, retalhos da condição humana. E...?