09 mai, 2018
Não será demasiado perigoso confiar aos homens - a qualquer homem, inclusivamente a nós próprios - a decisão de quem deve morrer ou viver? Estou convencido que sim.
Numa decisão tão radical quanto a da vida e da morte, o desespero fácil (de quem se julga condenado) e a manipulação dos mais frágeis (surpreendidos por circunstâncias inesperadas) constituem atalhos rápidos para a asneira.
Prefiro que na eutanásia o Estado esteja quieto. Mas que se mexa, e muito, nos cuidados paliativos. Para que todos possam viver os seus últimos dias com dignidade, qualquer que seja a sua condição económica e vivam onde viverem: nas ilhas, no interior ou no litoral.
E se há partidos responsáveis que defendam a eutanásia, assumam a convicção no terreno e no momento próprios. Avancem com um programa eleitoral que reivindique tal proposta. Não façam calculismo eleitoral, ousem propor o que defendem no momento em que os elei-tores escolhem os seus representantes. Não disfarcem hoje o que pretendem amanhã.
Choca-me que um tema desta importância seja suprimido ou dissimulado nos programas eleitorais, para sair depois da cartola, a reboque de uns quantos.
Há muitos anos que o PS sofre da síndrome do BE. Os bloquistas agitam um tema forte, trazem-no para a praça pública como a última coca-cola do deserto, e o PS apressa-se a cobrir a parada, não vá alguém pensar que a modernidade o deixou para trás. Tem sido assim em muitas circunstâncias e em diferentes legislaturas. E assim é de novo no tema da eutanásia.
Claro que no programa eleitoral do PS de 2015 nada se dizia sobre a eutanásia.
Curiosamente, na plataforma eleitoral do Bloco de Esquerda para as eleições de 2015, também nunca encontrei a palavra eutanásia nem a sua defesa: se lá está, estará muito bem disfarçada, não vá o eleitor incauto preocupar-se, antes de tempo, com temas essenciais.
Chama-se a isto respeitar os eleitores e valorizar a democracia?
A resposta é simples: aprovar no parlamento um tema como a legalização da eutanásia, sem o propor em devido tempo, não é menos do que uma fraude.
Não é bonito, mas é o que é.