30 set, 2021
As eleições autárquicas não correram como o secretário-geral do PS esperava. Os socialistas continuam a ser o maior partido autárquico, apesar de perderem posições, algumas significativas. Mas tudo seria justificável se não tivessem perdido a capital. Em Lisboa, António Costa teve a sua maior derrota política.
A aparente fragilidade política de Carlos Moedas garantiu-lhe a vitória. Politicamente Moedas não assustava. Não falava como um político, não era íntimo dos aparelhos, não andava na política desde sempre. Em suma, um novato. A derrota era mais que provável. Faltava saber por quantos.
Por isso, alguns eleitores de Medina encolheram os ombros e as esquerdas quiseram ir a votos sozinhas. E sozinhas perderam.
Moedas fez o impensável. Acreditou como nem alguns dos seus eleitores acreditaram. Não gritou – nem faz o seu género – mas pela diferença, motivou.
Aguentou a votação de há quatro anos de Assunção Cristas e Tereza Leal Coelho e ainda foi buscar mais dois ou três mil votos. Não foi muito, mas o suficiente, para derrotar um dos principais candidatos à sucessão de António Costa.
Não será coincidência que, logo a seguir à derrota de Medina, o ministro Pedro Nuno Santos, outro putativo candidato à sucessão de Costa, tenha engrossado a voz contra (pelo menos) o ministro das Finanças, a propósito da demissão da liderança da CP.
Talvez não seja também por acaso que, na ressaca da derrota de Lisboa, tenha surgido a crise sobre a nomeação de um novo Chefe do Estado-Maior da Armada. Por aquilo que agora se sabe, a substituição do atual Chefe da Armada estava prevista para daqui a alguns meses. Antecipar a substituição, e logo pelo vice-almirante Gouveia e Melo, parece mais uma jogada partidária do que uma decisão de Estado.
Fica-se com a sensação que alguém quis tirar partido da popularidade de Gouveia e Melo, a quem o país deve agradecer, designadamente poupando-o a semelhantes aproveitamentos, aos quais me parece especialmente avesso.
Em maré baixa depois da derrota de Lisboa, o Governo - ou alguém dentro dele – parece ter querido colar-se à popularidade de um militar, cuja ação também contribuiu para prestigiar as Forças Armadas. Uma moeda de troca para anular os efeitos penosos da vitória de Moedas.
O Presidente da República percebeu e não deixou. As Instituições e as pessoas não se tratam assim. Fez bem.