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José Luís Ramos Pinheiro
Opinião de José Luís Ramos Pinheiro
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​Adriano: Cem anos foram poucos

24 out, 2022 • Opinião de José Luís Ramos Pinheiro


Adriano Moreira teve uma vida fascinante, proporcional ao fascínio com que falava e pensava.

Nasceu na I República, atravessou os 48 anos do Estado Novo e morreu ao fim de 48 anos de democracia.

Adriano Moreira teve uma vida fascinante, proporcional ao fascínio com que falava e pensava.

Esteve preso no Estado do Novo, mas tal não o impediu de ser ministro de Salazar nem de abandonar funções, quando o chefe do Governo queria que mudasse de política.

Salazar pretendia que Adriano pusesse de lado as suas ideias, das quais ele não tencionava prescindir. Não prescindiu e saiu.

Perseguido depois do 25 de Abril, regressou ao país, filiou-se no CDS, partido que chegou a liderar.

Acreditava nas grandes instituições como pilares do país. E no plano internacional foi um defensor convicto das Nações Unidas e do papel que deviam representar na consolidação da paz e do desenvolvimento.

Adriano Moreira não era um homem de massas, antes privilegiava a relação pessoal.

Mesmo não sendo as suas, respeitava as convicções dos outros, próximos ou distantes, convergentes ou divergentes.

E acreditava na força das palavras, sem delas abusar.

No discurso de Adriano cada palavra tinha um peso que era sentido; e um sentido que evidenciava esse peso.

Cada frase não era fruto do acaso, mas do que pensava e defendia. O que dizia e escrevia resultava de uma visão e de um propósito, convicto e coerente.

Para atacar ou se defender, nunca o ouvi desclassificar ou ofender.

Fugia da propaganda fácil que vulgariza a política e desvaloriza a intervenção pública.

O seu modelo de intervenção cívica é um contraste perfeito com a ‘overdose’ de palavra fácil que vulgariza e banaliza tantas figuras públicas.

Acima de tudo, Adriano Moreira tinha a simplicidade e a humildade dos sábios.

Viveu cem anos entre nós, mas parecem poucos, porque, em geral, ainda não aprendemos o suficiente com ele.

A sua morte será ocasião para muitas e justas homenagens. Mas a melhor homenagem a Adriano Moreira é querer aprender com ele.

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