24 out, 2022
Nasceu na I República, atravessou os 48 anos do Estado Novo e morreu ao fim de 48 anos de democracia.
Adriano Moreira teve uma vida fascinante, proporcional ao fascínio com que falava e pensava.
Esteve preso no Estado do Novo, mas tal não o impediu de ser ministro de Salazar nem de abandonar funções, quando o chefe do Governo queria que mudasse de política.
Salazar pretendia que Adriano pusesse de lado as suas ideias, das quais ele não tencionava prescindir. Não prescindiu e saiu.
Perseguido depois do 25 de Abril, regressou ao país, filiou-se no CDS, partido que chegou a liderar.
Acreditava nas grandes instituições como pilares do país. E no plano internacional foi um defensor convicto das Nações Unidas e do papel que deviam representar na consolidação da paz e do desenvolvimento.
Adriano Moreira não era um homem de massas, antes privilegiava a relação pessoal.
Mesmo não sendo as suas, respeitava as convicções dos outros, próximos ou distantes, convergentes ou divergentes.
E acreditava na força das palavras, sem delas abusar.
No discurso de Adriano cada palavra tinha um peso que era sentido; e um sentido que evidenciava esse peso.
Cada frase não era fruto do acaso, mas do que pensava e defendia. O que dizia e escrevia resultava de uma visão e de um propósito, convicto e coerente.
Para atacar ou se defender, nunca o ouvi desclassificar ou ofender.
Fugia da propaganda fácil que vulgariza a política e desvaloriza a intervenção pública.
O seu modelo de intervenção cívica é um contraste perfeito com a ‘overdose’ de palavra fácil que vulgariza e banaliza tantas figuras públicas.
Acima de tudo, Adriano Moreira tinha a simplicidade e a humildade dos sábios.
Viveu cem anos entre nós, mas parecem poucos, porque, em geral, ainda não aprendemos o suficiente com ele.
A sua morte será ocasião para muitas e justas homenagens. Mas a melhor homenagem a Adriano Moreira é querer aprender com ele.