06 mar, 2023
Nenhuma instituição, seja ela qual for, pode alguma vez garantir que abusos como os da pedofilia nunca ocorrerão. Apesar disso, os abusos sexuais no seio da Igreja constituem uma negação insuportável dos Evangelhos.
Por isso, espera-se clareza de atuação e de comunicação, de modo que não reste uma dúvida sobre a aplicação da tolerância zero que o Papa reclama para os abusos sexuais, no seio da Igreja.
Nos últimos anos, em diversas dioceses portuguesas, vários foram os sacerdotes afastados ou suspensos de funções, por motivos diversos, alguns deles por alegadas questões de natureza sexual. Não se perceberia que no contexto atual, se procedesse de outra forma.
Não se espera que a Igreja atue de modo cego, mas que se comprometa inequivocamente perante os fiéis e perante a sociedade a tudo fazer para que tais abusos não se repitam, designadamente no caso de pessoas ainda vivas e no ativo.
Ninguém pode negar às pessoas vivas e no ativo, que de alguma forma viram o seu nome referenciado como eventuais abusadores, o direito de se defenderem. Mas antes deste elementar direito, vem o sagrado dever de defender potenciais vítimas e prevenir eventuais repetições de comportamentos anormais de foro criminal.
Nunca vi outra Instituição, pública ou privada, auto sujeitar-se e abrir-se a uma investigação como esta que a Igreja solicitou e permitiu. Seria agora impensável que a Igreja viesse a fechar-se sobre si própria, como tantas instituições e corporações procedem, sempre que se sentem sob pressão.
As conclusões da Comissão independente não apontam, importa dizê-lo, para uma prática generalizada de abusos, mas bastaria um único caso, para merecer resposta clara e inequívoca.
Percebe-se que o tema da pedofilia seja para a Igreja um tema particularmente doloroso, mas quanto maior a dor, maior a responsabilidade. Porque há obrigações que nunca prescrevem.