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José Miguel Sardica
Opinião de José Miguel Sardica
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Reinos desunidos, “finis Europae”?

15 jun, 2016 • Opinião de José Miguel Sardica


Seja do lado do “Sim” ou do “Não”, o objectivo é menos Europa, menos integração e menos interferências supranacionais rígidas.

“Brexit” ou “Bremain”? “British Exit” ou “British Remain”? Falta uma semana para o referendo britânico à permanência na UE. O resultado não é certo e há sondagens para todos os gostos.

O eurocepticismo moderado, ou nacionalismo soberanista (diferente do proteccionismo xenófobo), é uma segunda natureza da forma de ser britânica. William Pitt não gostava do imperialismo napoleónico, da mesma forma que Thatcher ou Cameron sempre denunciaram o absorcionismo continental e a sujeição das soberanias nacionais ao directório de Bruxelas.

É a preservação desta especificidade que no fundo constitui o objectivo último dos dois lados do debate. Quer os defensores da permanência, quer os defensores da saída lutam por menos Europa, menos integração e menos federalismo, sobretudo quando este assume a forma de interferências supranacionais rígidas ou de transferências de dinheiros de uns para acudir às dívidas estrangeiras de outros. Onde diferem é nos meios.

Cameron prefere ficar dentro da UE para continuar a conquistar espaço, na linha das concessões (ou tratamentos de excepção), arrancados a Merkel, Hollande e Juncker em Fevereiro.

Já os seus críticos preferem sair para restaurarem a absoluta independência do Reino Unido, num “esplêndido isolamento” neo-vitoriano que a globalização interdependente de mercados e políticas hoje já não permite.

Se a Grã-Bretanha sair, será o princípio do fim da UE. No imediato, obrigará a criar cenários e instrumentos nunca previstos nos quadros legais comunitários. Como se processa a saída de um dos (e dos maiores) membros do “clube”? Como ficam os compromissos, responsabilidades políticas, solidariedades institucionais e relações financeiras e comerciais de Londres com o continente? Como desmantelar, reverter ou “nacionalizar” infra-estruturas, leis, programas, tudo, enfim, o que a Europa já instalou para lá da Mancha?

A médio prazo, abrir-se-ia o terrível precedente de que é possível… sair. Outros países pensariam no mesmo, para lá de que estaria escancarada a porta a que alguns fossem mesmo obrigados a sair. A lógica da Europa foi sempre a da bicicleta: parar é cair, por isso a rota é em frente e para mais integração.

Isto foi, e é, um erro – mas é o que temos. Tal como vejo o assunto, o “Brexit” é uma aventura demasiado arriscada e desconhecida para valer a pena experimentá-la. É preciso mudar a UE, sem dúvida, mas isso tem de ser feito ficando e não desertando.

Pessoalmente, estou convencido que o “Bremain” vai vencer. Posso estar enganado, e a beleza da política, das relações internacionais e da história é que ninguém pode prever o futuro. Mas na hora do voto, creio que o sentido moderado, realista, prudente e muito prático dos ingleses vai imperar, barrando experimentalismos arrojados e utopias de muito incerto desfecho.

A Grã-Bretanha está há mais de 40 anos no mercado comum; o seu papel na Europa não é negligenciável (e Downing Street também não quer renunciar a ele); em caso de saída o respaldo americano não será o mesmo; finalmente – factor decisivo – o “Brexit” reacenderia com toda a certeza o separatismo escocês e a belicosidade norte-irlandesa.

De Reino Unido eurocéptico, passar-se-ia a um “reino desunido”, isolado e talvez em lutas intestinas. E depois da ilha, outros reinos se desuniriam, por cópia de um mau exemplo.

É bom reparar que três dias depois do referendo britânico, a 26 de Junho, há eleições em Espanha – um país cruzado por separatismos e onde a Europa é também alvo de muitas críticas. Entre Londres e Madrid, estará a UE à beira de enfrentar um “finis Europae”?

Comentários
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  • Indignado
    19 jun, 2016 Tomar 15:46
    Interessante artigo do Prof. Sardica e oportuna intervenção de ERocha, que aborda muito bem o democrático esquema criado para destruir a economia, indústria e pescas nacional, que contou com traidores governantes, que têm de ser presos, julgados e presos..., até lá, vamos continuar a empobrecer, amarrados à ditadura imposta pela panzer alemã e apoiada pelos hedonistas da islamização da Europa.
  • Eduardo Rocha
    18 jun, 2016 Lisboa 15:14
    Um mundo sem Estados independentes apenas interessa aos países mais poderosos… se permanecerem independentes. Também interessa a uma pequena elite globalista (Clube Bilderberg e afins) com a ambição de controlar o maior número de países possível, que para tal, utiliza instituições como a UE e a ONU. A Independência é o valor supremo de uma Nação que queira ser realmente livre! O fim da independência significa o fim da verdadeira liberdade! Uma nação dependente também poderá eventualmente ser livre, mas apenas na medida em que as nações ou instituições de quem depende o permitirem! Obviamente, que a independência não deve significar “orgulhosamente sós”. Mas sim permitir a abertura a acordos igualmente vantajosos e justos com outras nações livres e independentes. Resumindo: estar no euro e na União Europeia é cada vez mais o caminho para o colapso económico, para a perda progressiva de soberania nacional e para a destruição da democracia.
  • Eduardo Rocha
    18 jun, 2016 Lisboa 15:06
    Vai sendo cada vez mais claro que a UE não passa de uma fantochada ruinosa que não interessa a ninguém. John Adams - 1735 a 1826, disse: "Há duas maneiras de conquistar e escravizar uma nação. Uma é pelas armas, a outra é através do débito". Nesta linha de raciocínio estão os planos da construção da Nova Ordem Mundial, arquitetada pelos poderosos do mundo, pertencentes ao Clube Bilderberg. A União Europeia nasceu para dar luz aos ditos planos do clube. Inicialmente venderam a ideia de grandes vantagens e benefícios da criação da união dos povos e a criação duma zona de comércio livre. Só que isso na realidade escondia a perda de soberania e escravização dos povos pelos tratados, leis e regulamentos que levaram ao enfraquecimento e empobrecimento dos países que formam a UE. Como diz o ditado popular: “O que o Diabo dá o Diabo leva”.
  • Eduardo Rocha
    18 jun, 2016 Lisboa 15:04
    A União Europeia contribuiu para destruir a indústria, a agricultura e as pescas nacionais, em troca de subsídios que só tornaram os portugueses ainda mais chicosespertos e parasitas do que já eram. Por exemplo: A Alemanha está a vender pouco leite? Subsidiam-se os portugueses e gregos para desmantelarem a sua indústria leiteira. Rapidamente o mercado fica mais aliviado, porque se elimina a concorrência. Fingindo-se que se está a ajudar um país com subsídios, apenas o estão a retirar do mercado e a torna-lo num país mais dependente. A França está a vender pouco vinho? Dá-se um subsídio aos agricultores para abater vinhas. E eis que a França passa vender mais vinho. A Inglaterra está a vender pouco peixe? Mandam-se subsídios para os portugueses abaterem a sua frota pesqueira. Os países mais fracos ficam cada vez mais fracos, passam de activos concorrentes a passivos consumidores e ainda se tornam assíduos clientes do BCE, pois um país que não produz, rapidamente cai em dívidas.
  • Eduardo Rocha
    18 jun, 2016 Lisboa 14:54
    O sistema vigente, alicerçado na União Europeia, no Euro e no Estado Gordo Sobreendividado está condenado a colapsar de uma vez por todas! E quanto mais depressa o dito sistema colapsar, melhor! Porque menor será o rasto de destruição que deixará! O novo sistema que deverá emergir dos escombros, deverá alicerçar-se em Estados Soberanos, Independentes, com Moeda Própria, Contas Publicas na Ordem e Abertos a Acordos Igualmente Vantajosos com os outros Estados Soberanos Estrangeiros. Já basta de uma UE constituída por Estados lacaios da Alemanha! Já chega de paus-mandados, espoliados, escravos e comodistas, à espera que uma qualquer troika ou uma qualquer directiva de Bruxelas digam como governar!
  • Fernando de Almeida
    17 jun, 2016 Porto 03:30
    A UE tem vindo a ser paulatinamente ocupada por gente que desvirtua o espirito de quem a pensou e criou.Em consequ^encia disso, tornou-se numa DITADURA que ja' ninguém suporta. Quer a Inglaterra fique ou saia ja' pouco adianta. Ja' ha' sinais da sua implosão. Cada vez são mais os partidos de extrema esquerda e de extrema direita, por essa europa, que se posicionam para lhe apressar o fim
  • Pinto
    16 jun, 2016 Custoias 00:43
    Saída do euro é a solução para a estabilidade. Nunca os trabalhadores dos países do sul (periféricos) estiveram tão mal como agora, O que a UE trouxe de bom para a igualdade, direitos laborais e sociais dos trabalhadores, não era suposto haver mais igualdades? Ou só querem as fronteiras abertas para transacionar os milhões com origens sujos?
  • Tito Poiares
    15 jun, 2016 Camacha 23:02
    Ou de como a Alemanha vai destruir a Europa pela terceira vez em 100 anos. Desta vez sem canhões e bombas, mas com a arrogância, sobranceria e prepotência costumeiras.
  • Luis
    15 jun, 2016 Lisboa 08:53
    Tudo o que é comentador do Reino reconhece há muito que a "Europa" não existe. Que tudo o que foi idealizado pelos seus fundadores não passou de isso mesmo, um ideal. Que a Europa caminha para um fim tragico pois não consegue encontrar as soluções conjuntas para os problemas graves com que se defronta. Ao mesmo tempo e contraditoriamente defendem a ideia de que com a vitória do Brexit a Europa desaparece. Bem, em que ficamos? É problema sair em devido tempo de algo cujo fim a médio prazo pode ser tragico? Descer com o electrico parado todos sabem. Caso haja a vitoria do sim só duas coisas podem acontecer, uma é tentativa imediata de fazer a "Europa" voltar ao que já foi de forma a tentar fazer voltar o filho pródigo a casa e outra é o fim antecipado da "Europa" por muitos previsto com Brexit ou sem Brexit. Sou de opinião que a saida é positiva pois a mesma seria devidamente clarificadora relativamente a saber-se que "Europa" verdadeiramente os Europeus querem. Se bem que hoje em muitas coisas seja impossivel construir uma "Europa" como ela foi idealizada.
  • António Costa
    15 jun, 2016 Cacém 07:23
    Crescer, no Respeito pelas Diferenças, significa que se é Diferente. Tolerar e Respeitar as Diferenças! A Alemanha NUNCA entendeu isso! Ou provoca genocídios para acabar com as Diferenças ou, como hoje confunde Tolerância com Ignorância, dizendo que as Diferenças não Existem! Respeitar e EXIGIR Respeito, pois quando alguém é recebido são lhe ensinadas as Regras de comportamento, senão Gostam regressam à Origem!