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Luís António Santos
Opinião de Luís António Santos
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opinião de Luís António Santos

Mas o que é que o Jornalismo pode fazer por nós?

18 jan, 2022 • Opinião de Luís António Santos


A profissionalização das máquinas partidárias na gestão de canais alternativos de contacto (nomeadamente, as redes sociais) é uma realidade, mas o essencial da mensagem apareceu e vai continuar a aparecer na rádio, nos jornais e, sobretudo, na televisão.

Uma campanha eleitoral decisiva, mas presa às restrições e dúvidas impostas pela pandemia, torna-se ainda mais dependente da presença de líderes e de propostas nos média.

Os debates televisivos – que registaram boas audiências – terão sinalizado de forma clara essa tendência. A profissionalização das máquinas partidárias na gestão de canais alternativos de contacto (nomeadamente, as redes sociais) é uma realidade, mas o essencial da mensagem apareceu e vai continuar a aparecer na rádio, nos jornais e, sobretudo, na televisão.

Assim sendo, aproveitando de forma abusiva uma das frases mais memoráveis dos Monty Python, talvez seja importante perguntar: o que é que o jornalismo fez/pode fazer por nós?

Walter Lippmann, por muito considerado um dos fundadores do moderno jornalismo norte-americano, escrevia, em novembro de 1919, na revista The Atlantic, um texto com o título ‘O problema essencial da Democracia’, em que dizia: “o mundo sobre o qual as pessoas devem ter opiniões tornou-se tão complicado que está para lá da capacidade de compreensão. O que sabemos sobre os eventos que interessam, sobre as ações do governo, sobre as aspirações dos povos ou a luta de classes chega-nos em segunda, terceira ou quarta mãos. Não podemos verificar nada pessoalmente. (…) As notícias chegam até nós de lugares distantes, embrulhadas em enorme confusão, falando de temas complexos; temos que as assimilar quando estamos cansados, aceitando sem reflexão o que nos é dado”.

É um retrato feito há mais de 100 anos, com base num mundo que há pouco tinha terminado um enorme conflito global, que vivia mergulhado em graves problemas económicos e no qual já se sentiam sinais da emergência de discursos nacionalistas. Curiosamente é, ao mesmo tempo, uma descrição que podia aplicar-se, sem dificuldade, ao ambiente em que vivemos hoje – a multiplicidade de mensagens, a existência reduzida de enquadramento para temas complexos, a incapacidade para refletir sobre cada uma delas.

O que une estes dois momentos tão distantes é a proposta de um contrato social entre o jornalismo e os cidadãos como mecanismo relevante para a saúde de regimes plurais e democráticos; o que os afasta, no entanto, é a noção de que em 1919 a ideia estava a fortalecer-se e em 2022 está em crise profunda.

A perceção social é diferente, as opções de acesso a informação são muitas mais (algumas delas envolvendo contacto direto entre agentes políticos, desportivos, comerciais, artísticos e as suas audiências) e o Jornalismo – sobretudo o nacional – enfrenta, com meios muito reduzidos, níveis de exigência extraordinários.

Há, certamente, muito a corrigir no trabalho diário para tornar distintiva e relevante a atividade (não podemos, por exemplo, confundir a prática de um crime informático com um ataque à Liberdade de Imprensa; não podemos somar as audiências dos debates de TV e escrever que 20 milhões de portugueses os viram; não podemos disponibilizar ferramentas para ‘clarificar’ intenções de voto com problemas metodológicos graves) mas, voltando à pergunta do início – o que é que o Jornalismo pode fazer por nós? –, talvez se possa dizer que pode ir-se aguentando, com falhas e erros, mas também com algum trabalho excecional, à espera de que – enquanto cidadãos e enquanto comunidade – lhe demos todos a necessária relevância e apoio.
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