21 jan, 2022
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A primeira semana de campanha eleitoral termina com sondagens que sugerem uma tendência crescente do PSD e, ainda que de forma ligeira, um aumento da expressão das forças à direita no espectro político.
Foi, em todo o caso, uma semana pouco dinâmica em termos de propostas ou de discussão e isso talvez se explique com as limitações a grandes momentos de afirmação dos partidos (temos arruadas, temos umas frases soltas ditas mais em função das necessidades dos média do que de alguma situação nova concreta e pouco mais) mas tem também uma outra razão identificável – a ostensiva ausência de Rui Rio no único debate político preparado para o ambiente da Rádio.
De visita a Bragança e a Vila Real, o líder social-democrata apresentou os seus argumentos de forma clara: por um lado, sugeriu a surpresa e, por outro, salientou o incómodo.
Os responsáveis editoriais da Rádio Renascença, da TSF e da Antena 1 apressaram-se a afastar a ideia da surpresa – o convite terá sido feito no dia 10 de dezembro – mas o que importa analisar é o incómodo.
Rui Rio disse aos jornalistas que sentia ser mais importante estar presente em todos os distritos do Continente - “não vou dizer ‘já fiz nove – quero fazer dez’” – e que “o que é demais, é moléstia”.
Ora, a tal da moléstia (doença, mal-estar ou sofrimento físico ou moral, segundo os dicionários) será, para o candidato a primeiro-ministro, não apenas ter mais um debate, em pé de igualdade, com os seus opositores, mas também fazê-lo na Rádio, um meio tão irrelevante que não merece um atempado arranjo de calendário de campanha (como, aliás, fizeram todos os demais líderes, à exceção de André Ventura).
E aqui, apropriando-me de uma das hastags usadas, por este dias, na rede Twitter, creio francamente que tivemos #RuiRioMal.
O líder social-democrata reforçou uma ideia populista perigosa para o sistema democrático – a de que o debate político é, em muitas circunstâncias, uma perda de tempo (já o havia feito a propósito dos debates quinzenais no Parlamento) – e desvalorizou um meio que, para muitos cidadãos eleitores de todo o país, é ainda companhia permanente durante o dia (seja em casa, no trabalho ou em viagem), um espaço em que a imagem e a postura física são menos importantes do que as ideias apresentadas e, por último, um território que cria proximidade e intimidade como nenhum outro.
A Rádio, que Rui Rio imaginará, talvez, ‘velha e irrelevante’ cumpre um papel social vital, está presente de forma uniforme e gratuito no país e valoriza algo que se presumiria também ser relevante para o candidato – a substância. E, certamente, estará por cá para acompanhar o que quer que venha a acontecer à carreira do candidato que a vê como uma moléstia.