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Luís António Santos
Opinião de Luís António Santos
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​O que ficou por dizer na campanha

07 jun, 2024 • Opinião de Luís António Santos


Nesta amálgama de agendas, expectativas e intencionalidades, prevaleceram temas com maior impacto imediato, como as migrações, mas isso significou o abandono de debates importantes.

Depois de um arranque tímido, em que houve sinais de um esforço para discutir temas de política europeia, a campanha chega ao fim com mais dinâmica, é verdade, mas subjugada a uma agenda tendencialmente nacional. Sendo isso pouco surpreendente, em termos históricos, há este ano riscos acrescidos que importa salientar.

Estamos, por um lado, a viver numa União Europeia que não digeriu ainda muito bem os efeitos na organização interna de dois alargamentos já neste século e que assiste a um crescimento de forças nacionalistas e a um reforço de políticos com esse perfil. É, neste momento, uma entidade sem horizonte estratégico bem definido e, num tal enquadramento, abre-se espaço como nunca para ‘vozes’ mais enérgicas, propondo soluções fáceis para problemas muito complexos.

Estamos, por outro lado, a experimentar internamente a contaminação inevitável causada pela grande proximidade às eleições Legislativas e as ondas de choque de uma governação minoritária contrariada por votações em contexto parlamentar (como se percebeu bem nesta última semana de campanha, com o IRS).

Nesta amálgama de agendas, expectativas e intencionalidades, prevaleceram temas com maior impacto imediato, como as migrações, mas isso significou o abandono de debates importantes. E o mais relevante, neste particular, é que independentemente do que se discutiu por cá em campanha, os 21 eurodeputados nacionais a eleger este domingo vão ter que pronunciar-se, ao longo do seu mandato (e em acerto com os respetivos grupos parlamentares), precisamente sobre algumas dessas questões. Alargamento mais acelerado ou mais lento?

Alargamento mais flexível para alguns? E a Turquia (um dos países que iniciou o processo de adesão há mais tempo)? Orçamento militar comum nalgumas áreas (as compras, por exemplo)? Posicionamento comercial/político relativamente à China? Caminho para fiscalidade unificada (ou para fim de concorrência interna entre países membros)? Novas fontes de rendimento? Relação com os gigantes tecnológicos? Investimento em Ciência e Investigação? Garantias de liberdades individuais?

Sobre muitos destes assuntos – verdadeiramente europeus, mas com muito fácil expressão nacional também – falou-se pouco e em poucos espaços de entrevista e/ou debate, moderados por jornalistas.

Tivemos, à semelhança do que já havia acontecido na campanha para as Legislativas, uma enorme predisposição dos cabeças de lista para ‘presenças’ em programas de entretenimento (alguns, em canais exclusivamente online) e uma também crescente relutância em aceitar debates e/ou entrevistas em espaços informativos.

A campanha fez-se, por isso, no essencial, de reações mútuas a mimos, de interações com a (certamente programada) maior visibilidade do Governo e de excertos ‘engraçados’ retirados, precisamente, dessas conversas muito simpáticas e amenas em espaços não jornalísticos.

É o que temos! – dir-se-á. Claro que sim. Mas será o que merecemos?

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