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Luís Cabral
Opinião de Luís Cabral
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​O poder de Trump

18 nov, 2016 • Opinião de Luís Cabral


Uma característica importante do sistema político americano é a separação de poderes.

Tanto a imprensa americana como a imprensa portuguesa deram eco à surpresa da eleição de Trump, bem como a ameaça que isso representa.

Têm razão, mas nem sempre pelos motivos certos. A ideia de que "Trump utilizará o seu poder para destruir a sociedade americana" é no mínimo exagerada. Mesmo que o quisesse, não teria poder para o fazer.

Uma característica importante do sistema político americano é a separação de poderes. Em muitos países, incluindo Portugal, a separação de poderes existe em teoria, mas na prática é frequentemente ténue. Por exemplo, durante os governos de José Sócrates, entre disciplina parlamentar e um certo controle dos reguladores e grandes empresas, vivemos o regime mais próximo do "Rei Sol" desde Salazar.

Nos Estados Unidos, a separação entre poderes é mais séria e sólida. Mesmo com o Congresso dominado pelo Partido Republicano, Trump está longe do "cheque em branco" que um partido maioritário teria em Portugal. Há muitos Representantes e Senadores republicanos que não partilham a visão e plataforma Trumpistas (se é que a palavra existe).

Para conseguir passar novas leis, o novo presidente precisa de um apoio de que não dispõe automaticamente, pelo que terá de negociar e procurar soluções de compromisso.

Quanto ao poder judicial, é verdade que os juízes dos tribunais mais importantes, incluindo o Supremo Tribunal, são nomeados pelo presidente. No entanto, as nomeações são revistas pelo Senado. Mais uma vez, estamos muito longe de um "cheque em branco". (Por outro lado, duvido que Trump venha a nomear mais do que 1 ou 2 novos juízes.)

O que me preocupa mais não é o poder formal do presidente-eleito. O que me preocupa mais é o ambiente de atitudes racistas que a campanha e a figura de Trump alimentam. Penso concretamente nos mais novos, começando com as crianças que, pela sua idade e inexperiência, são facilmente influenciáveis. Não acredito que Trump seja racista, mas creio que a sua campanha — e, de forma mais geral, a sua atitude — contribuem para a impressão de que a supremacia da raça branca é condição necessária para o "Make America Great Again".

Nos últimos dias registou-se um número invulgarmente elevado de queixas de ataque (verbal ou físico) baseados em atitudes racistas (o maior número desde o 11 de Setembro). É possível que isto seja um fenómeno de "over-reporting" (o número de casos é o mesmo que era antes, mas o número de queixas aumentou). Também é possível que isto seja somente um fenómeno passageiro.

É possível que seja um falso alarme — mas é algo que me preocupa.

Comentários
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  • Miguel Botelho
    21 nov, 2016 Lisboa 14:35
    Zezão: quem tem a comunicação social nas mãos ainda são os «pafiosos». É ver as notícias, desde a imprensa à televisão e constatar que tudo ainda segue na mesma. Depois, a esquerda ganha e não fica contente. Neste caso, fez-se uma coligação de partidos para evitar que Pedro Passos Coelho continuasse a governar, com as suas políticas de austeridade e colaboracionismo com a ditadura da «troika». No final, a vitória de Trump também é protesto contra as políticas seguidas pela globalização do sistema político, o TPP e o «fracking». Se Trump mentir, não se conseguirá evitar uma segunda guerra civil na América.
  • João Lopes
    19 nov, 2016 Viseu 16:48
    Excelente artigo!
  • Zezao
    19 nov, 2016 Olhao 15:42
    Meu caro, os media são propriedade de grandes empresas com interesses globalistas. Parece um paradoxo essas multinacionais se aliarem á esquerda progressista mas se pensar bem é uma troca de interesses. Têm acesso a mão de obra barata para produzir num lado e vender noutro sem taxas de importação. Por outro lado a esquerda ganha o poder e fica contente. Aliás não é por acaso que o PCP foi contra algumas taxas relativas a património cá em Portugal. A comunicação social é uma das primeiras apetencias da extrema esquerda e a julgar pela (im)parcialidade e omissão das noticias cá em Portugal podemos tirar as nossas conclusões.
  • Francisco Rodrigues
    18 nov, 2016 Algés 23:37
    Só quem andava intoxicado com a CNN e os média europeus ficou surpreendido com a vitória de TRUMP Eu não Segui as eleições muitas horas por dia e não tive dúvidas com bastantes dias de antecedência . Escrevi isso nas redes sociais Os comícios (rally..) de TRUMP estavam sempre cheios....os de Hillary... vazios Sempre que OBAMA abria a boca...fugiam milhares de votos ( CHEGOU A DIZER QUE OS MUÇULMANOS ERAM OS CIDADÃOS AMERICANOS MAIS PATRIOTAS ! ! !)... vídeos de fraudes a favor de Hillary eram diários .. Governadores democratas em pânico a fazer BILLs a toda a pressa para permitir o voto de migrantes sem documentos (!!!) .. claramente inconstitucional ...! ! ! Também ajudaram.... Surpreendido estou con a RR .... Tim Kaine candidato a VP por Hillary afirmou num comício que a igreja católica seria.......BANNED.... se não aceitasse...SAME SEX MARRIAGE....... ( mas os muitos milhões de dólares dos sauditas, emires, sheiks...grandes financiadores de Hillary fizeram no esquecer o islão que enforca os LGTB...) E depois têm medo do TRUMP ? ? ?
  • Miguel Botelho
    18 nov, 2016 Lisboa 14:58
    O fenómeno é mais complexo, mas tem uma análise mais simples se vir pelo lado da globalização. O Sr. Luís Cabral viu a Inglaterra votar a favor do «Brexit». Os americanos votaram favoravelmente (na maioria dos seus estados) em Trump. Nestes países, o sistema capitalista levou as pessoas a perder confiança nas políticas dos seus governos. Proximamente, verá o mesmo acontecer em Itália e em França, onde o presidente corrupto François Hollande não é popular. Ao contrário do que se pensa, o fenómeno «Trump» é global no mundo do sistema capitalista.
  • António Costa
    18 nov, 2016 Cacém 12:45
    "...não teria poder para o fazer..." diz tudo. Tudo Mesmo. O Segredo : a separação de poderes, a diferença de "na prática" nas sociedades "cristãs" a "Democracia" existir e isso ser impossível com o Islão. O Cristianismo promove a separação entre Deus e César (separação de poderes) e o Islão não.