22 mai, 2017
A mensagem do Papa para o 51º Dia Mundial das Comunicações Sociais, a evocar no próximo domingo, levanta uma questão interessante: como fazer frente às “más notícias” dos media e dar espaço e atenção às “boas notícias”?
A interrogação vai de encontro a um discurso que, volta e meia, anda nas bocas do mundo: existe uma tendência no jornalismo para exagerar o que é negativo e para subestimar o que é positivo. E a tendência agrava-se em tempos de crise económica, de relativismo de valores e de ausência de referenciais éticos.
Como tentativa de resposta têm surgido iniciativas de criação de projectos jornalísticos que pretendem distinguir-se por dar “boas notícias”: soluções inovadoras, prémios e vitórias, receitas e iniciativas saudáveis, etc. Mas porque é que esses projectos não se tornam eles próprios casos de sucesso?
A resposta não é fácil. Mas lembra-me sempre a contradição que surge com frequência a quem estuda as audiências de televisão: se se pergunta o que as pessoas gostam de ver, a resposta é, digamos, documentários, programas culturais, informação. Mas os dados do audímetro apontam em sentido bem diverso: telenovelas e entretenimento. Experiências de “eyetracking” (monitorização do movimento dos olhos) perante ecrãs de notícias mostram que prestamos mais atenção a um desastre ou um escândalo do que a um gesto bonito.
Por conseguinte, pode perguntar-se: se os jornalistas nos ‘pintam o mundo’ e se a pintura tem com frequência cores negras, onde reside o problema? No mundo retratado, nos pintores ou nos apreciadores das pinturas?
Quando há notícias de carga negativa, elas não podem evidentemente ser sonegadas. Assim como o contrário. Mas cabe perguntar: o que é uma notícia positiva? É necessariamente “flores e passarinhos a voar”? E porque não os conflitos e tensões que revelam resistência aos males do mundo? E as que denunciam o (e resistem ao) achincalhamento das pessoas e das situações?
Neste contexto, a mensagem do Papa Francisco merece leitura atenta, porque não cai na armadilha do simplismo. “Não se trata, naturalmente – nota ela - de promover desinformação onde seja ignorado o drama do sofrimento, nem de cair num otimismo ingénuo que não se deixe tocar pelo escândalo do mal”.
E lança uma pista, que desenvolve, em registo evangélico: “a realidade não tem um significado unívoco. Tudo depende do olhar com que a enxergamos, dos ‘óculos’ que decidimos pôr para a ver: mudando as lentes, também a realidade aparece diversa.”