04 jun, 2018
Rui Osório, jornalista e presbítero do Porto, nunca deixou de ser padre entre os jornalistas e foi também sempre um jornalista nos meios eclesiais e na sociedade. Para uma derradeira despedida, juntou na Sé Catedral do Porto, nesta sexta-feira, colegas de muitas andanças, amigos de muitas proveniências e anónimos que o admiravam e que, em muitos casos, acompanhou.
O Rui é, de certo modo, um filho do Concílio Vaticano II: dos gestos do Papa João XXIII que convocou esse mega-evento, dos debates que o pautaram, do arejamento da Igreja que incentivou. É também um fruto do clima eclesial que o caso do bispo do Porto D. António Ferreira Gomes originou na Igreja portucalense e nacional. De resto, a decisão deste bispo, uma vez regressado do exílio forçado por Salazar, de substituir um jornal diocesano chamado “Voz do Pastor” por um outro que fosse “Voz Portucalense” diz alguma coisa dessa abertura e escuta da sociedade. Rui Osório, ordenado ainda durante o Concílio, e com formação em jornalismo feita em Espanha (em Portugal não havia), foi um dos artífices desse projeto jornalístico, de imediato incomodado pela censura política. A sua entrada como jornalista nos quadros do Jornal de Notícias (JN) dá-se nos anos imediatos ao 25 de Abril. Pouco tempo depois, integrava já o pequeno grupo de chefes de Redação do diário portuense.
No exercício da profissão, em que manteve também uma atenção permanente ao facto e à ‘actualidade religiosa’, são muitos os aspetos a destacar.
Num olhar subjectivo, sublinho dois que me envolveram diretamente. Um deles foi a sua participação ativa no Conselho de Imprensa, um órgão de natureza ético-legal, que teve funções de (auto)regulação do sector e que ainda hoje muitos desejam como alternativa ou complemento à Entidade Reguladora da Comunicação Social. O outro foi a aposta que, com Manuel António Pina e mais camaradas do JN, fez no sentido de renovar a redação do jornal, em 1980, num concurso que selecionou 12 novos jornalistas entre 427 candidatos. Na altura, uma decisão dessas implicava um jogo nem sempre fácil, entre a cultura da tarimba e a formação universitária, ambas porventura carecidas de boa dose de humildade. Rui Osório foi sempre um defensor desse sangue novo e do espaço dele na construção do futuro do jornal.
São pequenos sinais entre muitos que, na redação, na assistência a movimentos, na paróquia e na vida de tanta gente, traduziram a qualidade da presença, a solidariedade, a amizade e a atitude de serviço desta figura do jornalismo e da Igreja, ainda a descobrir.