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Opinião de Manuel Pinto
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​Por detrás do Nautilus

18 jun, 2018 • Opinião de Manuel Pinto


Os media tendem a dar notícias sobre as migrações quando algo sensacional acontece. E quando reportam sobre migrantes ou migrações, geralmente trata-se de más notícias.

Foi isso que vimos nos últimos anos, com largas centenas de milhares de refugiados da guerra da Síria, a demandarem a Europa pelo seu flanco sudeste. Foi e continua a ser também isso que tem levado outras centenas de milhar de migrantes “económicos” que tentam a sua sorte pelo Mediterrâneo, vindos da miséria de muitos países africanos que o capitalismo ocidental explorou nos últimos séculos.

Foi de novo isso que vimos na semana transacta com o navio Nautilus, a ser empurrado de anás para caifás, por ninguém querer receber as 629 pessoas (sim, pessoas!) que nele viajavam. Foi a Espanha, com novo governo mais sensível ao drama dos migrantes, a assumir o seu acolhimento “por razões humanitárias”. Sim, porque a União Europeia, movida cada vez mais pelos ventos populistas, procura varrer o lixo para o quintal do vizinho, nem que para tal tenha de pagar a quem lhe possa fazer o serviço.

Os africanos do Nautilus, pelo menos não morreram afogados, como continua a acontecer a milhares de outros. Mas não é seguro o que os espera, até porque a UE continua manietada pelas suas contradições nesta matéria.

Mas não só contradições. No início deste mês, o jornal italiano Avvenire, tal como alguns outros meios de informação, alertavam para o papel pouco claro das políticas da UE, de contenção dos candidatos a imigrantes a sul da Líbia e sobretudo da Argélia. Os relatos da Organização Internacional das Migrações, a partir das suas bases de acolhimento em Agadez, no Níger, por exemplo, dão conta de práticas absolutamente inomináveis de autêntica ‘caça ao negro’ por parte das autoridades dos países do Magreb. Violências, violações, abandono de “carregamentos de pessoas” no deserto, em pontos dos quais o local mais perto a pé só pode ser para sul, caso as pessoas resistam à fome, à sede e ao calor.

Há quem chame ao Níger a fronteira sul da Europa e, de qualquer modo, parece ser ali que se está a fazer aquele que também já foi chamado “laboratório das políticas migratórias da União Europeia”. Mas sobre esses bastidores dos “acontecimentos” o silêncio é ensurdecedor.

Comentários
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  • MASQUEGRACINHA
    19 jun, 2018 TERRADOMEIO 17:34
    Concordo com o que diz, embora ache que ainda não havia assim tantos ventos populistas a moverem a União Europeia, quando esta começou a varrer o lixo para o quintal do vizinho. Talvez já se sentisse uma brisa prenunciadora de ventania, mas não foram decerto os ventos populistas que impediram a larga maioria dos países da UE de cumprirem o acordo de recolocação de refugiados, pois não? Quer dizer, os que sobravam da subconcessão à Turquia. Aqueles que o Santini perguntou ao Macron se a França já tinha recebido, e que deviam ser nove mil, ou se ainda ia pelos seiscentos e tal? E depois, o cínico era o Santini... Sem qualquer simpatia pelo personagem, temos que reconhecer que Santini teve a qualidade de pôr a mexer este polvo obeso que é a UE. Um exemplo dos males que vêm por bem, talvez. Por outro lado, não é difícil entender a posição de italianos, gregos e malteses, membros da UE para o que interessa, sujeitos de direito internacional para o que não interessa. Não terá sido, afinal, o não cumprimento de acordos, a letargia em encontrar e aplicar soluções comuns, o desprezo pelo quintal comum, a perpétua chantagem sobre os povos com a dependência da moeda única, o que transformou a brisa ligeira num vento forte, que já ameaça tornado? Não são os populismos que impedem as soluções políticas: é a inércia da política centralista que fomenta o cada um por si, a tratar do seu próprio quintal. Em suma, o populismo.