26 fev, 2018
Quando o establishment político – e a própria opinião pública, deve dizer-se – continuam a acreditar que quanto mais armas mais segurança, a ponto de haver, nos Estados Unidos da América uma média de quase uma arma de fogo por habitante, não será de espantar que as matanças se sucedam com uma frequência cada vez maior.
Nos dois meses que leva 2018, contam-se já quase duas dezenas de ataques indiscriminados com armas de fogo, dos quais o mais mortífero foi o da escola secundária de Parkland, na Flórida. Nos massacres anteriores, dizem os analistas que uma semana depois do acontecimento, o assunto morria nos media. Banalizou-se este tipo de acontecimentos trágicos. Era só esperar até ao próximo caso. Nessa altura, os políticos manifestavam dor e ofereciam orações e a minoria que não aceita este estado de coisas voltava à carga, sem sucesso. Obama foi mais sensível ao problema, mas não mudou praticamente nada. Apenas em alguns estados se mantém condicionado o acesso a armas de assalto com grande poder de fogo, algo que já foi comum a toda a federação até 2004. Mas o poder da National Riffle Association (NRA) é enorme, nomeadamente o que decorre das muitas dezenas de milhões de dólares que tem canalizado para as campanhas eleitorais de governadores, presidentes e congressistas.
O que parece estar a ser novo, no caso mais recente da Flórida, é que foram os próprios adolescentes a revoltar-se contra a inação dos agentes políticos e dos poderes públicos. Claro que sem os media e sem as redes sociais, de pouco tinha valido essa revolta. Mas aproveitaram o contexto para se manifestar, para confrontar, em debates televisivos para eles inesquecíveis, alguns políticos que os representam. E foram capazes de os obrigar publicamente a compromissos quanto ao controlo no acesso a armas de guerra, tocando, ao mesmo tempo, no ponto que mais dói: se estão dispostos a prescindir dos montantes que têm recebido da NRA.
Perante a força e a argumentação dos estudantes, até o presidente Trump teve de encenar à pressa uma reunião na Casa Branca, onde defendeu essa brilhante ideia dos professores armados e treinados para disparar. Só faltava a cereja em cima do bolo para este cenário tenebroso de mais armas para as escolas: a afirmação do patriotismo dos dirigentes da NRA. Há, de facto, características que assistem a Donald Trump. Em abundância.
Com António Variações: “quando a cabeça não tem juízo…! No meio da desgraça, há flores que desabrocham e que alimentam a esperança. Mesmo que sejam, apenas, as flores do bom senso. Essenciais, quando este falta. Vêm, frequentemente, de onde menos se espera.