17 dez, 2018
Tudo o que possa ser feito para incentivar o contacto da população, especialmente dos jovens, com o jornalismo regional e local promove o direito constitucional à informação e desenvolve a consciência do país e das suas realidades específicas que actualmente está comprometida. Direta e indiretamente pode também contribuir para atenuar as dificuldades das empresas jornalísticas e de comunicação social.
Esta é uma trave-mestra da resposta que pode e deve merecer o alerta recente do presidente da República sobre a “situação de emergência na generalidade dos media”. Mas não está tudo por fazer.
Em março de 2011, a Universidade do Minho entregou ao então Gabinete para os Meios de Comunicação Social um volumoso estudo intitulado “Avaliação da Política de Incentivo à Leitura”, solicitado pelo próprio Gabinete, em que se mostrava como o Estado atua com a imprensa regional como se ela “não prestasse um relevante e insubstituível serviço público (como, noutro plano, o faz a televisão e a rádio)”, além de não respeitar compromissos e contratos com ela assumidos.
Nesse estudo teve-se muito em conta algo que era ali frisado por uma conhecida especialista nestas áreas, Teresa Calçada, hoje Comissária do Plano Nacional de Leitura, quando afirmava, que “a leitura dos periódicos é uma passerelle para outras leituras.” Por isso, salientava ela, quando os estabelecimentos de ensino são incentivados a disponibilizar assinaturas em papel e/ou online deste tipo de publicações, “uma publicação puxa outra”, podendo os jovens ser interpelados pelo professor-bibliotecário, que os desperta para outras leituras.
Nesse estudo reviam-se medidas como a distribuição e disponibilização regular das publicações em redes de bibliotecas (escolares, municipais, comunitárias, associativas); apoio directo às assinaturas, a exemplo daquilo que acontece já noutros países; apoio a iniciativas e projetos focados na promoção e dinamização da leitura, envolvendo a Rede de Bibliotecas Escolares ou a Rede de Leitura Pública. Recomendava-se uma efectiva articulação entre este trabalho e as iniciativas e projetos de literacia mediática que se encontravam, então em fase de relançamento e que ganharam, entretanto, maior visibilidade e urgência, com as redes sociais e a desinformação a elas associada. As recomendações de 2011 mantêm, em boa medida, a sua atualidade, salvaguardando que o contexto privilegiado é cada vez mais o das plataformas e redes digitais.
Está na hora de articular e dar força a estas dimensões, através de políticas públicas de educação, comunicação e cultura, com visão e espírito inovador. Os media, as escolas e as bibliotecas (escolares e comunitárias) são parceiros insubstituíveis nesse caminho que uma cidadania ativa exige e que está em boa parte por fazer.