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Nota de Abertura
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Ímpetos nacionalistas primários

06 set, 2017 • Opinião de Nota de Abertura


As diferentes regiões que compõem a Espanha foram construindo um sistema que lhes reserva um enorme grau de autonomia, sem pôr em causa a unidade do país.

Ainda a viver o rescaldo do atentado terrorista das Ramblas, o governo autónomo da Catalunha quer aprovar em 24 horas, e quase sem discussão parlamentar, uma lei do referendo. Este diploma - ilegal, segundo a Constituição espanhola - aponta para a realização de um referendo no próximo dia 1 de Outubro, sobre a independência da Catalunha.

O governo catalão sabe que o referendo não é aceitável - nem política nem constitucionalmente. E que vai provocar reações duras do estado espanhol.

Aliás, as diferentes regiões que compõem a Espanha foram construindo um sistema que lhes reserva um enorme grau de autonomia, sem pôr em causa a unidade do país.

Outros estados, como o alemão, elevaram as autonomias a estados federados. São modelos de organização adequados a países vastos que simultaneamente valorizam as diferenças e preservam a unidade. Todas estas regiões sabem que por si só - isto é, independentes - seriam mais frágeis de todos os pontos de vista.

Não é impossível que a Espanha acabe por evoluir para um modelo algo parecido com um estado federal.

Mas o sonho de alguns, de fragmentar o estado espanhol, cedendo a ímpetos nacionalistas primários, ainda que ingénuos, pode tornar-se num pesadelo. Até pelo eventual efeito dominó. Uma europa sacudida pelos ventos do nacionalismo populista seria uma europa ainda mais frágil e decadente.

Do lado português, também não se percebe como é que uma Espanha desestabilizada pode contribuir para a nossa felicidade.

De resto, olhando do lado de cá da fronteira, Espanha é um grande país. Dimensão cultural notável; pujança económica invejável; importância política inquestionável.

Sabendo-se que o populismo é o melhor aliado do terrorismo, a quem interessará o desmantelamento de uma potência como a Espanha, cujo papel geoestratégico na fronteira sul da Europa é tão bem conhecido?

Comentários
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  • João Lopes
    08 set, 2017 Viseu 15:18
    Concordo com LC: «o sonho de alguns, de fragmentar o estado espanhol, cedendo a ímpetos nacionalistas primários, ainda que ingénuos, pode tornar-se num pesadelo (…) Não é impossível que a Espanha acabe por evoluir para um modelo algo parecido com um estado federal».
  • MASQUEGRACINHA
    06 set, 2017 TERRADOMEIO 19:26
    Há um lado da questão que me parece ser negligenciado : o facto de os catalães serem, na sua larguíssima maioria, não só independentistas, como republicanos... e as memórias da guerra civil ainda lá estão, latentes mas não dormentes. Daí que o blá-blá sobre uma eventual solução de tipo federalista seja blá-blá mesmo. Acontecerá, muito provavelmente, o que aconteceu com a Escócia - e não será por falta de vontade, mas por humano pragmatismo. A Espanha é uma marca muito forte no mundo... Conheço muito bem a Espanha, e a Catalunha é outro país, onde até a língua espanhola é tratada como língua estrangeira. Aliás, a Catalunha e não só. De qualquer modo, parece-me de extremo mau-gosto, no mínimo, o título desta nota de abertura, um bocado a puxar à pasquinada de moralidade de pacotilha... ou dir-se-ia que começam a doer os calos a alguém? Ímpetos primários... que coisa mal educada! E estúpida, porque, convenhamos, se são primários, já são primários há muitíssimo tempo. Ainda bem que os catalães não se interessam pela opinião da RR para nada.
  • Tiago Batista
    06 set, 2017 Lisboa 13:59
    Isto é um tema muito delicado. O que querem os secessionistas é romper a sociedade catalã em dois, pois eles têm plena consciência do que pretendem é ilegal (a Constituição Espanhola, aprovada com mais de 90% de "sins" na Catalunha, não permite referendos regionais) e que ninguém vai reconhecer (ninguém vai reconhecer a independência unilateral de uma região através da violação do ordenamento jurídico de um estado de direito, até porque estaria a contribuir para o enfraquecimento do seu próprio ordenamento jurídico). Portugal seria afetado diretamente pela independência unilateral da Catalunha, primeiro porque Espanha seria afetada e Espanha é o nosso maior parceiro comercial e segundo, pela fuga de empresas da Catalunha (pois uma Catalunha independente ficaria fora da UE e do mercado comum, segundo o Tratado de Lisboa): Apesar que o governo português poderia tentar capitalizar essa fuga de empresas da Catalunha. Uma rutura, nunca seria pela via pacífica, por isso haverá sempre enfrentamento entre os dois lados e nós acabaríamos sempre por ser atingidos. No plano da UE, acho que a Catalunha não terá sorte, a União Europeia mandar-os-á para a fila de espera para reentrar na União (pois não irá querer abrir precedente para outras regiões como a Córsega, Veneza, Bretanha, Baviera, etc). No entanto, eu acho que este processo vai "parir um rato" e não vai dar em nada e que não irá haver nenhum referendo no dia 1 de outubro ( irá haver sim, serão eleições autonómicas antecipadas).
  • RG
    06 set, 2017 Lisboa 11:00
    Tenho dúvidas de que o tema justifique uma nota de abertura... um tema tão discutível...
  • José Carneiro
    06 set, 2017 Porto 10:09
    Mentes centralistas - também têm o direito a exprimir-se. Mas não contem que os outros se agachem. Já agora: porquê esta súbita preocupação do sector empresarial do Patriarcado de Lisboa? pare3ce-me - sem qualquer demagogia - que haverá questões mais preocupantes para motivarem tomadas de posição.
  • Fausto
    06 set, 2017 Porto 09:51
    Aqui estamos perante um pasmoso e despropositado exercício da Rádio Renascença. Diz a emissora católica que a ambição dos catalães por uma nação soberena não passa de um ímpeto nacionalista primário. Foi esse o ímpeto de D. Afonso Henriques? Mas por que razão tem a Renascença necessidade de se pronunciar sobre isto? Que receio tem a rádio católica de um debate que, verdadeiramente, tem sido democrático? Saberão os sr da emissora católica que Portugal deve a sua soberania ao facto do Rei Filipe de Espanha ter considerado a questão da Catalunha prioritária reduzindo o contingente militar em Portugale permitindo assim a restauração da independência? Sabe a Renascença que a Catalunha tem já um representante diplomático em Lisboa e que Portugal é o 4º parceiro comercial daquela região autónoma à frente de países como por exemplo os Estados Unidos? Imaginemos que, apercebendo-se deste tipo de comentários em Portugal, as autoridades e as empresas catalãs reduzem substancialmente o volume de compras a sectores tão relevantes para nós como o textil e sobretudo o calçado? Consultaram porventura as estatísticas das relações comerciais Portugal/Catalunha? Sabem pelo menos que a a Catalunha tem uma língua própria que não é o castelhano? Deixem-se de exercícios despropositados, respeitem o debate democrático.