05 abr, 2024 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo
O novo governo tomou posse esta terça-feira, na Ajuda. Bloco e PC não compareceram à cerimónia; Pedro Nuno Santos e Rui Tavares fizeram-se representar. O monárquico Câmara Pereira não apareceu no Palácio. Alguém se esqueceu de convidá-lo.
As televisões montaram arraiais na Ajuda, arrastando para ali um sortido fino de comentadores que, durante toda a tarde, comentaram o que iria acontecer especulando sobre o que empossante e empossado iriam dizer, analisando cada um deles a especulação do outro, num processo sem fim, como nos debates de pre-match futebolístico. De resto, o modelo das coberturas futebolísticas parece ter tomado conta das televisões, a avaliar pelo recente “derby do Capitólio” ou pelo último CM de António Costa, com imagens da chegada de cada ministro à sede da CGD.
Luís Montenegro, no discurso da tomada de posse encostou o PS às cordas. O apelo direto a Pedro Nuno Santos para clarificar o seu posicionamento – faz oposição democrática ou “bloqueio democrático” – enciumou o Chega que se apressou a vir informar que em presença do “flirt”, se remetia à oposição. Como se, por atos ou palavras, alguém lhe tivesse dado qualquer esperança de um compromisso, nem que fosse para uma escapadela de fim de semana. Porventura, Montenegro terá antecipado na Ajuda o discurso de investidura no Parlamento. Uma coisa é certa: fez um discurso vigoroso e suficientemente claro para o país ficar a saber ao que vem. E sossegou Carlos César, que manifestou publicamente preocupação sobre a medida do excesso do excedente orçamental, aproveitando para avisar as corporações que o celebrado excedente não servirá para pagar custos permanentes.
Aparentemente, Luís Montenegro conseguiu reunir uma equipa para lá das expectativas que, dadas as circunstâncias, eram muito baixas. A primeira reunião do Governo, aprovou a alteração do logótipo do Governo. Para um governo de que se espera este mundo e o outro, ninguém poderia prever que a primeira preocupação fosse o logótipo do Governo. A coisa vale o estatuto de primeira decisão? Depois do Carnaval parlamentar em torno da eleição de Aguiar-Branco para presidente da AR, que descredibilizou os políticos aos olhos dos cidadãos, a decisão sobre o logótipo parece, no mínimo, extravagante. É verdade que o trabalho que o Governo desenvolverá será a prova do algodão, mas para início de conversa parece frívolo.
Sendo o comentário importante e, dada a superficialidade das redes sociais, cada vez mais necessário, seria saudável que os comentadores assumissem o compromisso de produzir declarações de interesse. O caso do major-general Agostinho Costa, da TVI/CNN, é paradigmático e um exemplo eloquente desta necessidade. No momento imediato ao atentado de Moscovo atribuía a ação terrorista à Ucrânia, alinhado com a narrativa do Kremlin. As declarações de interesse dos comentadores são cada vez mais relevantes também porque vivemos numa nova era, a era pré-guerra, como a define Donald Tusk, primeiro-ministro polaco. Situação que levanta várias questões como a reintrodução do serviço militar obrigatório ou algo aproximado, um debate relançado pelas entrevistas e declarações, ao Expresso e ao Público, dos chefes militares portugueses.
Em suplemento, nos Grandes Enigmas, será que o ministro Nuno aparafusa tão bem como o parlamentar Melo? Que noção de democracia têm os líderes partidários que estiveram ausentes da tomada de posse de um governo, resultante do voto dos portugueses? O Banco de Portugal reviu em alta a previsão de crescimento do PIB, corrigindo os 1,2%, em Novembro de 2023, para 2%, agora em Março. Quer dizer: sem governo, Portugal cresceu. Não é melhor continuarmos sem Governo? E já agora, porque é que a meteorologia continua esquecida pela informação de atualidade? Com alterações permanentes, o tema não deveria ser explorado pelas televisões?