12 abr, 2024 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo
Esta quinta e sexta-feira o Parlamento discute o programa do Governo, mas o início da semana foi dominado por uma nova aparição de Pedro Passos Coelho. O antigo PM foi à Bucholz, na véspera da entrega do programa do Governo, apresentar o livro “Identidade e Família”. A SICN fez um direto com boa parte da apresentação; as televisões mostraram Ventura e a conversa entre os dois. Não há evento em que não apareça o Dr. Ventura; não há debate em que o Chega não ocupe o centro da discussão. O que pretende Passos Coelho? Reinventar o centro, contaminando com alguma radicalidade a tradicional moderação desse espaço político? Condicionar o início da ação governativa de Montenegro?
A semana fica também marcada pela relação epistolar entre Pedro Nuno Santos, que tomou a iniciativa, e Luís Montenegro. O primeiro-ministro elogiou a “responsabilidade política e o compromisso”, que saúda democraticamente, mas rejeita prazos impostos pela oposição. Na resposta pronta, também por carta, Montenegro explica que é ao Governo que compete definir o calendário de execução das medidas com as quais o PS se compromete na missiva inicial. Esta posição foi o bastante para o chefe socialista, em entrevista à CNN Portugal, acusar o primeiro-ministro de arrogância pela rejeição do prazo de 60 dias proposto pelo PS. No início do debate sobre o programa do Governo, voltando ao tema, Montenegro considerou que o PS quer que o Governo faça em 60 dias o que os governos socialistas não fizeram em 3050 dias. Afinal quem é o arrogante?
A crispação no espaço público – vejam-se as declarações de Santos Silva sobre Lucília Gago - contamina, inevitavelmente, os comentadores das televisões que, regra geral, mostram-se alinhados com a narrativa dominante. Há casos, demais, em que a realidade construída pela bolha mediática não encaixa na realidade do país. Mélenchon, líder do movimento França Insubmissa, que usa o TikTok na sua ação política, com grande sucesso, de resto, justifica a utilização da rede chinesa porque os meios tradicionais “estão vendidos ao sistema e ao grande capital”. Não subscrevendo o que diz o velho militante da esquerda francesa, a verdade é que os Media tradicionais têm tendência a afunilar o discurso, excluindo ideias e perspectivas, que não se encaixem na narrativa dominante. A quem aproveita então a crispação que se sente? Aos Media não será certamente. Os espaços de debate e de noticiário das televisões não têm crescido em audiência, apesar do largo tempo dedicado ao comentário.
A primeira página do Tal e Qual da semana passada informa que Marcelo “só fala com jornalistas de esquerda”, que o presidente identifica. O jornal explica que na reunião em que Marcelo recebeu a delegação socialista, na ronda de conversações com os partidos políticos após as eleições, o presidente começou por desmentir a manchete do Expresso que revelava que ele não aceitaria o Chega no Governo, considerando que se tratava de um amuo de Ângela Silva porque não falava com ela há meses. Ela amuou e, interpretando o presidente, ter-se-á vingado dele. Um absurdo sem tamanho sobre o caráter de uma jornalista com méritos firmados, reconhecidos por todos. A reunião de Belém foi interrompida em dado momento pela entrada intempestiva de uma vespa asiática que colocou em alvoroço todo o Palácio e mobilizou uma brigada de funcionários, com máscaras e toalhas, para capturarem o perigoso inseto. O Tal e qual assegura que a reunião prosseguiu com o presidente empunhando uma tolha e sempre atento a qualquer investida da vespa. Será que a fonte de Belém, ainda não revelada, é um drone, disfarçado de vespa asiática?