20 dez, 2024 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo
Em 2024, o facto internacional mais relevante foi a eleição de Trump, com o seu cortejo de dúvidas e incertezas, algumas inquietantes. Desde logo para os Media tradicionais que poderão ter pela frente um Presidente portador de uma agenda de vingança. É preciso não esquecer que, durante a corrida para a Casa Branca, Trump apontou os jornalistas das grandes cadeias de televisão e dos jornais de referência como inimigos da América, logo inimigos dele.
Também não se pode atribuir ao acaso a decisão tomada pelos donos de alguns grandes jornais de não apoiarem expressamente nenhum dos candidatos presidenciais. Para lá da sua própria rede, Trump contará com um leque alargado de "influencers", e com o TikTok a passar para mãos americanas até à véspera da tomada de posse. Pode ser que o novo proprietário venha a ser também um companheiro de viagem, como Elon Musk (X).
Com uma visão isolacionista quer do ponto de vista económico, quer no plano político, Trump prepara-se para onerar as taxas sobre produtos chineses e europeus. Mas também no comércio com Canadá e México, seus vizinhos. Embora Biden tenha ido a Luanda validar os investimentos americanos projetados para o Corredor do Lobito, não é de admitir um regresso dos Estados Unidos a África, continente que abandonou na sequência da Guerra Fria, deixando terreno livre à Rússia e, sobretudo, à China. Aparentemente, Trump já terá explicado a Zelensky que terá de depor as armas e fazer um acordo com Putin, sacrificando parte do território da Ucrânia. Con Trump na Casa Branca, é o fim da Europa tal como a conhecemos? E a organização do Atlântico Norte como ficará?
Das ondas de choque da vitória de Trump nos EUA às(...)
No plano nacional o facto mais relevante foi a vitória eleitoral da AD. Trata-se do regresso ao poder do centro-direita, depois de uma longa governação socialista, quase 30 anos, desde Guterres, com os pequenos interregnos dos executivos de Durão Barroso, Santana Lopes e Passos Coelho. Os constrangimentos da ação governativa neste nosso tempo são tremendos: escrutínio permanente dos media, instabilidade social recorrente com a rua e as redes socais como arenas políticas preferenciais, fragmentação do parlamento que produz sucessivos bloqueamentos políticos. Em bom rigor, o país vive um impasse: o Governo não consegue aplicar o seu programa; a oposição não consegue construir uma solução alternativa de governo. E daqui não sairemos. Pelo menos, até ao orçamento do Estado para 2026.
O crescimento da oferta áudio, designadamente através da produção de podcasts, e o fortalecimento do sector da radiodifusão como suporte publicitário são factores positivos num ano dominado pelo aprofundamento da crise nos Media, com a redução de efectivos um pouco por todo o lado e várias empresas que dificilmente escaparão a apresentarem contas no vermelho. MediaLivre e Global Media são exemplos contraditórios de um cenário cada vez mais complexo para os meios tradicionais.
No suplemento ao programa, nos Grandes Enigmas, qual o futuro da relação entre os Estados Unidos e a Europa? Talvez haja casais desavindos com melhores perspectivas de entendimento. Se Lucília Gago não tivesse acrescentado um parágrafo ao comunicado da PGR, António Costa ainda seria primeiro-ministro? E o novo aeroporto, alguém sabe quanto vai custar?