19 out, 2017 • André Rodrigues , Paulo Teixeira (sonorização)
A independência da Catalunha não durou muito mais do que meio minuto. Resumiu-se ao tempo de um ruidoso aplauso entre o anúncio do direito à autodeterminação e à sua imediata suspensão para promover o diálogo com Madrid. "Solução acordada", nas palavras de Carles Puigdemont.
Uma pretensão que nunca aceite pelo executivo de Madrid que, há mais de uma semana, anda a desafiar o presidente catalão a dizer o que foi afinal a declaração de 10 de Outubro no Parlament? Independência: sim ou não?
Esgotado o prazo dado por Madrid, Puigdemont ameaçou avançar com a independência caso o governo central recuse dialogar. Rajoy não perdeu tempo e vai assumir o controlo das instituições catalãs.
O que vai acontecer, só os próximos dias dirão. O avanço do artigo da Constituição espanhola que suspende a autonomia regional parece inevitável e será - tudo indica - formalmente aprovado num Conselho de Ministros extraordinário marcado para sábado.
Só que, para lá das implicações políticas para o conjunto da Espanha, este processo tem igualmente repercussões na própria Catalunha.
O parlamento regional é composto por 125 deputados: 62 que apoiam o governo, 63 na oposição. Só que dos 62 que estão ao lado de Puigdemont, 10 são da CUP, o partido que quer a independência a todo o custo e que ficou profundamente desiludido com este jogo de avanços e recuos, chegando até a ameaçar a retirada do apoio ao líder catalão.
O resto é economia. A Catalunha representa 19% do Produto Interno Bruto espanhol que, em 2016, superava os 1.100 milhões de euros.
Turismo, indústria e investigação científica são os três sectores-chave da economia da região que foi chamada a decidir entre ficar ou sair de Espanha mas que deixou um país de 46 milhões de habitantes. suspenso num impasse com desfecho imprevisível.
E porque normalmente a economia não convive bem com a incerteza, as bolsas caíram. O Euro também. Os juros da dívida subiram. E a Espanha reviu em baixa a sua projecção de crescimento da economia para o próximo ano, de 2,6% para 2,3%.
Uma má notícia para Portugal, uma vez que a Espanha é o principal cliente das exportações nacionais e tem sido o maior responsável pelo aumento das vendas de bens ao exterior.
Uma economia espanhola menos dinâmica poderá contagiar a actividade portuguesa. E, já agora, descontadas as razões internas de cada país, as perspectivas de crescimento não são propriamente diferentes nos dois lados da fronteira: Lisboa antecipa um crescimento de 2,2% em 2018. E isso é só menos 0,1% do que a previsão em Espanha.