13 mar, 2018 • André Rodrigues , Paulo Teixeira (sonorização)
11 de março. Foi este último domingo.
Há 14 anos, um dos dias mais negros da história recente da Europa: Madrid, estação de Atocha, 10 bombas explodem dentro de quatro comboios cheios de passageiros. Foi o primeiro grande atentado de inspiração jihadista na Europa Ocidental. 191 pessoas morreram. Mais de 1.800 ficaram feridas.
Assinado: al-Qaeda.
A partir destes acontecimentos, foi criado o Dia Europeu das Vítimas do Terrorismo, que é hoje uma preocupação bem presente nas sociedades europeias.
Da Rússia à Turquia, da Espanha ao Reino Unido, da França à Suécia, passando pela Áustria, pela Bélgica, a Europa sofreu 27 ataques terroristas no espaço de 17 anos.
1.080 mortos, 3.355 feridos.
Números que nos esmagam. Que nos fazem engolir em seco. Que demonstram o quão frágeis nos tornamos à mercê de uma barbárie cobarde e sem qualquer sentido.
Que mostram uma realidade completamente nova numa Europa habituada a viver com a garantia de uma segurança adquirida que nada nem ninguém pode (ou podia) pôr em causa.
E vivemos com tanto receio por causa deste novo normal aqui bem às nossas portas, que perdemos a capacidade de relativizar o problema.
Num artigo recente, o historiador José Miguel Sardica falava da "miopia da distância", lembrando que mais de 2.000 pessoas morreram em todo o mundo por causa do terrorismo em 2017.
97,5% dos ataques e 96% das suas vítimas registaram-se fora do Ocidente, leia-se Europa e América do Norte. Foram no Médio Oriente, em África e na Ásia.
Entre Canadá, Estados Unidos, Rússia, Suécia, Reino Unido e Espanha, morreram 85 pessoas.
Lembramo-nos bem, quanto mais não seja porque as coberturas mediáticas concedidas a estes acontecimentos tão próximos fazem-nos lembrar que eles andam por aí. E até agradecem a publicidade gratuita.
Mas, pergunta José Miguel Sardica, "teremos a devida consciência de que em maio de 2017 morreram 150 pessoas na explosão de um camião bomba em Cabul? E mais 500 em outubro num atentado contra um hotel e um mercado em Mogadíscio, na Somália? Ou mais 300 vítimas mortais em novembro num atentado suicida numa mesquita sufista do Sinai?"
Não há uma só vida humana perdida que não seja de lamentar. Seja em França, Espanha, Reino Unido, Bélgica, Holanda, Turquia, Estados Unidos, Afeganistão, Síria, Iraque, Indonésia, Jordânia e por aí adiante.
Será que todos assumimos #JeSuis com igual sentimento de consternação por todas estas vítimas?