05 abr, 2018 • André Rodrigues , Paulo Teixeira (sonorização)
Andávamos nós por estes dias à espera que a estação espacial chinesa caísse em território português. Estava para ser uma das histórias da manhã de segunda-feira de Páscoa que, por norma, é dia fraco para quem anda no negócio das notícias.
Ou seja, andava o universo jornalístico em Portugal (ou parte dele) a afiar canetas para contar o inédito de termos lixo espacial a aterrar no nosso cantinho e lá voltou a cair no Pacífico.
A "culpa" é do jornal El Mundo que, durante o fim-de-semana, nos alimentou a secreta esperança de recebermos a Tiangong-1. Em terra ou no mar.
Num artigo do correspondente em Lisboa, lia-se que "embora a faixa seja enorme e inclua milhares de quilómetros de mar, existe (ou existia) uma grande possibilidade do ponto de reentrada se encontrar precisamente nos limites de latitude indicados, o que faz (ou fazia) do norte de Portugal e do sul da Austrália os dois territórios em que a estação está (ou estaria) mais predisposta a fazer a aterragem final".
Pois bem, o que podia ter sido, afinal não aconteceu. Os destroços da estação espacial, que pesava oito toneladas e meia, divididas por 10 metros, caíram a noroeste do Taiti, no Pacífico Sul. Não se assuste com a dimensão dos números, até porque a maior parte da estrutura ardeu no contacto com a atmosfera.
O aparelho caiu "não muito longe do chamado ponto Nemo", o nome abreviado de Pólo da Inacessibilidade do Pacífico. Pondo a questão em termos mais vulgares, é o lugar mais distante de qualquer continente ou ilha no planeta Terra. Ou seja, uma terra de ninguém. E em latim, ninguém diz-se "Nemo".
É aqui que se encontra a ilha de Henderson. O maior depósito de lixo do mundo: 18 toneladas distribuidas por 37 quilómetros quadrados. 671 pedaços de lixo por metro quadrado.
Afinal de contas, parece que a real probabilidade de levarmos com a estação espacial chinesa em cima era de 0,058 por cento e não os três por cento que por aí se dizia.
Mas bem vistas as coisas era preciso ter muita sorte (ou muito azar) para que isso acontecesse por cá. Afinal a Terra tem 510 milhões e 100 mil quilómetros quadrados e Portugal não tem mais do que 92 200. Ou seja, as nossas hipóteses eram de uma para mais de 55 mil.
O único caso conhecido de alguém atingido por um pedaço de lixo espacial aconteceu a 22 de janeiro de 1997. A vítima foi Lottie Williams - a vitima - terá pensado várias vezes, mas porquê eu? Qual poderia ser, afinal, probabilidade de levar com um pedaço de seis centimetros de um aparelho espacial no ombro enquanto fazia exercicio num parque em Tulsa, no estado do Oklahoma? Pois, mas aconteceu.
Estima-se que haja 7500 toneladas de lixo no espaço.