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Obra Aberta
Programa quinzenal sobre livros gravado ao vivo no CCB. Domingos, depois das 13h.
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Obra Aberta - Afonso Cruz e Manuela Costa Ribeiro - 25/02/2018

Obra Aberta

O que gostam de ler os que escrevem e pensam o mundo dos livros?

25 fev, 2018 • Maria João Costa


O Obra Aberta saiu esta semana da “sua casa”, o Centro Cultural de Belém, e viajou até ao festival literário Correntes d'Escritas. Afonso Cruz e Manuela Costa Ribeiro são os convidados para a conversa.

A Câmara Municipal de Póvoa de Varzim organiza, há anos, o festival Correntes d'Escritas e dedicou ao Obra Aberta um texto sobre o programa deste domingo. Diz assim:

Foi assim um folhear de livros sugeridos por Manuela Ribeiro e Afonso Cruz, ao gosto pessoal da responsável pela organização do Correntes d'Escritas na Câmara Municipal da Póvoa de Varzim e do autor, por sinal, de um dos livros favoritos de Manuela Ribeiro, “Os livros que devoraram meu pai”.

A conversa desenrolou-se por entre memórias de infância, do lado de Manuela Ribeiro, e memórias de viagens, da parte de Afonso Cruz, que já viajou por mais de 60 países.

Falta dizer que estas “obras abertas” em frente ao público, no Hotel Vermar, nesta noite de quarta-feira, dia 21, foram motivo de conversa também a propósito de um programa de rádio: Maria João Costa e João Paulo Cotrim realizaram a gravação do programa “Obra Aberta” da Rádio Renascença.

O programa é quinzenal, transmitido aos domingos depois das 13h00, gravado ao vivo, habitualmente, no CCB. Desta vez, no reino do Correntes d'Escritas, a Póvoa de Varzim foi palco do programa, que será emitido no próximo domingo.

Por entre lançamentos de livros e a performance “As palavras são a música de ninguém”, a noite teve este interlúdio com dois escritores a darem conta das suas leituras e das suas criações.

Manuela Ribeiro recordou “O meu Pé de Laranja Lima” de José Mauro de Vasconcelos como o livro, um objeto raro na sua infância vivida numa freguesia rural, oferecido pelo irmão mais velho e que lhe abriu os olhos para as pessoas menos afortunadas, que não eram tão felizes como ela e que viviam muitas dificuldades no dia a dia.

Apresentou ainda dois livros que a marcaram pela força das figuras femininas protagonistas - “Madame Bovary” de Gustave Flaubert e “Anna Karenina” de Leo Tolstoy – que apesar de “carregarem os sobrenomes dos maridos, como que lhes retirando as identidades, acabam por se afirmar num mundo que as rodeia pela força das suas personalidades.

Afonso Cruz escolheu como livro marcante “Disparates do Mundo” de C.K.Chesterton. Era um conservador católico, caraterísticas com as quais Afonso Cruz não se identifica, mas aprecia o livro escrito em 1910, pois considera ter reflexões acerca da sociedade que ainda são bastante atuais, “algo de assustador”. Um exemplo é a referência ao nepotismo na vida pública com Chesterton a declarar que quando abre um jornal encontra os mesmos apelidos de 30 anos antes.

Afonso Cruz confessa que os livros de ficção não o atraem tanto como os de não ficção. E como é um apaixonado pelas viagens e estudioso de sociedades nómadas, apontou como um dos escritores favoritos Bruce Chatwin, autor de “Na Patagónia” e “Anatomia da errância: escritos vários”, entre outras obras.

Sobre as suas próprias criações, Manuela Ribeiro explicou o que procurou incluir de criativo numa história local há décadas contada e recontada, “Cego do Maio”, cuja 2ª edição lançada no ano passado foi reescrita. A autora quis fantasiar um pouco a história e dar-lhe um toque de epopeia, colocando como inovação uma espécie de concílio de Santos da Igreja Matriz a decidir no dia do nascimento da personagem o destino deste futuro homem destemido, que se lançava no mar às cegas para defender os companheiros em perigo nas tempestades.

Em “Djalan Djalan”, publicado no ano passado, Afonso Cruz escreve: “O mundo é um livro e aqueles que não viajam leem apenas a primeira página”. O escritor visitou dezenas de países e sublinha que gosta de percorrer as cidades a pé, chega a caminhar 10 kms para melhor descobrir os locais, as segundas opções são os transportes públicos e o taxi. Só assim, consegue tornear algumas situações de invasão do turismo de massas.

E, uma vez mais, as referências aos povos nómadas que observa, estuda e admira. “Há uns tempos foi às terras baixas da Bolívia visitar uma tribo e, no regresso, um colega de ofício dizia-me que me invejava, porque daqui a dez anos essa tribo não existirá mais”. E tudo porque, explicou Afonso Cruz, os nómadas vivem do território, é o seu mundo, mas cada vez mais as terras estão a acabar, pelo menos para essas tribos. E se as trocam de lugar, elas perdem a sabedoria de milénios, o conhecimento de cada planta, de cada bicho...

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