12 mai, 2021
O Sporting é um campeão merecido. Acendeu a candeia da liderança à sexta jornada e nenhum adversário foi capaz de ofuscar o comandante. A duas jornadas do fim, oito pontos de vantagem sobre o FC Porto e 12 para o arquirrival Benfica são números que por si só conferem a superioridade da única equipa invicta da prova.
O Sporting foi um campeão com sorte porque não há campeões sem sorte. Marcou 23 golos depois do minuto 75, oito dos quais em período de descontos. Mas esses registos também atestam crença, atitude, compromisso e determinação de um conjunto de jogadores que acreditou no que para a maioria do país desportivo estava sentenciado como mais uma época de espera sebastiânica por um título que fugia desde 2002.
O Sporting 2020/21 não teve um Jardel responsável por 60% dos golos da equipa, alimentado sobretudo pelo virtuosismo de um jogador como João Vieira Pinto, a dupla que pulverizou a concorrência há 19 anos.
Contudo, teve uma equipa na verdadeira aceção da palavra. Um grupo liderado por um timoneiro que para dentro soube ser um indutor de estímulos de confiança partilhada e para fora foi capaz de manter um discurso sem sobrancerias, no qual o favoritismo foi estrategicamente assumido apenas na véspera do jogo com o Boavista.
O pragmatismo que a equipa mostrou ao longo da época em campo foi proporcional ao discurso do treinador. Rúben Amorim defendeu-se nas palavras, e em campo, a sua defesa foi, até à data, a menos batida do campeonato. As bancadas vazias também ajudaram a defender um grupo que antes da pandemia sentiu recorrentemente os seus adeptos como incómodos adversários.
O adeus prematuro às provas europeias foi um rombo no casco nos planos financeiro, desportivo e emocional, mas acabou por dar à equipa dimensão física. Foi o lado positivo da pesada derrota com o LASK Linz, a 1 de Outubro, numa noite de pesadelo em Alvalade.
O título de campeão nacional do Sporting não fica para a história pela transcendência do futebol praticado, mas porque contrariou a lógica de consagrar quem tem os maiores orçamentos e investe mais dinheiro em jogadores.
O melhor marcador do Sporting, Pedro Gonçalves, já valeu 18 golos, é português e custou 6,5% da despesa do Benfica em contratações no mercado de Verão. E foi mais barato que Evanilson, a contratação mais dispendiosa do FC Porto.
Em Alvalade, nasceu um novo campeão e, quem sabe, um novo paradigma de gestão dos emblemas portugueses: menos despesa e maior aposta em jovens talentos formados nas academias. No plantel do Sporting há 11 razões para acreditar.
Parabéns, Sporting!