14 nov, 2015 • Pedro Leal
A partir de agora a segurança não existe. O acto fanático pode surgir num estalar de dedos.
Como se protegem todos os restaurantes – um restaurante foi atacado; como se protege uma praça à entrada de um museu – um dos ataques surgiu às portas do Louvre; como se protege um centro comercial – outro ataque surgiu no centro Les Halles; como se protege uma praça – no caso a Praça da República, onde ocorreu outro ataque; como se protege um teatro, um estádio de futebol, um centro cultural, onde em todos estes locais ocorreram também ataques? Ao todo, foram sete zonas atacadas praticamente em simultâneo e da mesma forma.
Não há segurança possível contra actos mais ou menos isolados, suportados apenas numa arma automática, capaz de dizimar dezenas de vidas e chocar o mundo com a facilidade de toda uma coreografia de morte.
Se uma imagem é possível, lembro-me da areia na mão. Esta é mais forte, mais segura, mas a areia escapa-se por entre os dedos. Nestes casos, o terrorismo está a escapar-nos entre os dedos.
Nos anos 60, 70, 80… o terrorismo era mais previsível e muito direccionado. Era, no fundo, um terrorismo político. Concentremo-nos apenas em três casos. Em Itália, as Brigadas Vermelhas mataram um primeiro-ministro, Aldo Moro. Na Irlanda e no Reino Unido, o IRA atacava directamente o exército britânico e os políticos ingleses – Margaret Thatcher foi um alvo directo do IRA. A mesma estratégia tinha a ETA em Espanha que atentou directamente contra a vida do primeiro-ministro José Maria Aznar e que assassinou outro primeiro-ministro: Carrero Blanco, em 1973, antes da chegada da democracia à Espanha.
Apenas o terrorismo ligado à causa palestiniana atingia um pouco mais o cidadão. Foi o caso do ataque em Munique, nos Jogos Olímpicos de 1972, contra atletas israelitas. A responsabilidade foi de uma organização denominada “Setembro Negro”. Mesmo assim, foi um atentado direccionado contra o denominado inimigo – Israel.
Hoje não é assim. Nós somos o alvo – nós a sociedade civil. E isto porque este é um terrorismo alegadamente de inspiração religiosa, contra sociedades e não contra regimes, estados ou partidos. O que está em causa são modos de vida e a herança judaica e cristã enquanto europeus.
E contra isto não há medidas mágicas, de solução fácil e rápida. Não são possíveis medidas directas. Pode-se eliminar uma ou outra célula, mas como na areia, as células escapam-se por entre os dedos.
A acção tem de ocorrer a vários níveis: directamente junto do Estado Islâmico – militarmente; directamente junto dos financiadores do Estado Islâmico e directamente junto dos que lhes compram o petróleo – estima-se, por exemplo, que o Estado Islâmico esteja a vender o petróleo que controla a praticamente metade do preço do valor de mercado. Quem o compra!
E acção tem de ocorrer também no plano diplomático. Europa, Estados Unidos e Rússia têm de se entender sobre como actuar na Síria e em todo o Médio Oriente. Por muito que isto seja difícil de admitir, o que está em causa na zona não é a democracia, mas sim quais os equilíbrios que podem garantir uma estabilidade.
Enquanto tudo isto não for resolvido, a segurança que vamos ver nas ruas pouco vai resolver. A areia é, será, sempre mais forte. E as vítimas vão ser a sociedade, nós em conjunto, e as centenas de milhares de refugiados e emigrantes que chegaram ou estão a chegar à Europa.
O que se passou na noite de sexta-feira foi um ataque à vida quotidiana – isto é, um ataque a qualquer um de nós, em qualquer lugar.