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Pedro Leal
Opinião de Pedro Leal
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Guerra ao cidadão inocente

15 jul, 2016 • Pedro Leal • Opinião de Pedro Leal


Sem inteligência na resposta ao terrorismo, corremos o risco de assistirmos a anos negros.

O ataque terrorista de Nice choca pelo grau de violência e pela simplicidade: um camião como arma de morte! Como se combate a insanidade? Como se combate a arrogância misturada com a ausência total de valores e princípios?

Quem pela guerra passou tem uma ligeira certeza. Apesar de todos os crimes que lá se cometem, o confronto é entre exércitos munidos de uma instrução, de um código de conduta, provavelmente de um código de honra e, em princípio, respeitadores das próprias leis da guerra.

O terrorismo não respeita nada disto. Nunca o fez. É caótico na acção para ser eficaz. Mas este novo terrorismo faz olhar com alguma complacência (não se confundam com a palavra – não é uma cedência, é antes uma estupefacção com o presente) para o terrorismo que abalou a Europa há algumas décadas: as Brigadas Vermelhas, a ETA, o IRA, as Baader Meinhof. Estes eram grupos terroristas europeus que normalmente não atacavam indiscriminadamente o cidadão – atacavam o responsável político, o militar, o chefe da polícia, o juiz. Estava tudo errado na mesma, mas havia uma lógica, um intuito. Hoje não há lógica, nem intuito a não ser o de atingir o cidadão o comum – o inocente total.

Ou se calhar há. Não nos podemos enganar, iludir. O que se pretende é destruir a democracia. Não é só provocar o caos – é destruir o Estado democrático através do seu elemento mais frágil: o cidadão inocente.

Sem inteligência na resposta, corremos o risco de assistirmos a anos negros. Se a demagogia, se os políticos que desejam o poder a qualquer custo assumirem a liderança do discurso, se a propaganda barata com assistência garantida se impuser é a democracia que vai estar em causa. E, ironia suprema, tudo vai acontecer através de eleições – é o que a História nos ensina.

Quanto aos terroristas há várias acções que têm que ser tomadas em simultâneo: no plano da prevenção, da investigação, das informações e da justiça. O que se exige é acção determinada, sem hesitações.

Da minha juventude há uma foto que não esqueço e que entusiasmava quem tinha toda a vida pela frente: François Mitterrand e Helmut Kohl, a França e a Alemanha, juntos e de mão dadas em Verdun, num memorial aos soldados franceses que morreram na I Guerra Mundial.

Esta foto é tão inspiradora hoje como há 32 anos, na necessidade de percebermos os momentos em que a História nos interpela. É necessário que esta foto inspire os homens do poder e o cidadão inocente, hoje o alvo do inimigo: há sempre um caminho, que não obrigatoriamente o caminho do caos e da demagogia. Que esta foto, que em 1984 venceu a desconfiança e simbolizou a paz e o desejo da sua perenidade, ilumine o discernimento do pensamento na Europa, já que os terroristas jamais perceberão o sentido de uma foto.

Comentários
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  • tiro no pé
    18 jul, 2016 Santarém 22:36
    Pela minha parte penso que os que por vezes mais apregoam liberdade e democracia são os seus melhores coveiros, a Europa está infestada de muçulmanos do Magrebe porque depois das guerras colonias esses países ficaram no caos e por outro lado era preciso segundo a esperteza dos políticos europeus ser-se simpático com essa gente, hoje são aos milhões por cá e com tanta liberdade e democracia o próprio cidadão europeu pelo menos de alguns países já não sabe se tem cultura própria e quem mais manda no país.
  • António Costa
    15 jul, 2016 Cacém 22:54
    Pedro Leal tocou várias vezes na ferida..."arrogância misturada com a ausência total de valores e princípios" quando se acha normal educar as pessoas sem princípios e esperar que os princípios apareçam por "geração espontânea".....e o alvo é o "cidadão comum", sim todas as pessoas que são LIVRES de se queixar, de insultar os políticos. São estas pessoas que "transformaram" a Europa numa ilha de Liberdade. São elas que mal ou bem criam e mudam as Leis do dia a dia. No resto do Mundo parasitas imundos em Nome Deles próprios, de Deus ou de outra desculpa qualquer, governam-se com a fome e a miséria de milhões de seres humanos.
  • José
    15 jul, 2016 Braga 17:01
    ....”Os devaneios da cabeça têm muito que se lhe diga”...Por outro lado, também, não nos podemos esquecer, da forma como, hoje em dia as sociedades estão estruturadas, em que tudo são números, e tudo é descartável, as pessoas não possuem modelos sociais dos quais se identificam, sentem-se marginalizas, deslocadas, sem identidade, perdidas, e então não tem nada a perder, e desta forma a situação pode se tornar explosiva... Os jovens desestruturados, socialmente marginalizados e sem esperança nem futuro, são sem dúvida, mais voláteis, influenciáveis, muitas vezes, até já possuem uma mente conturbada, pela educação e pelas vivências do meio em que estão inseridos, logo facilmente moldáveis. Não existem, verdades absolutas, e todos nós, temos os nossos fantasmas na cabeça. Já por varias vezes, temos observado pela comunicação social, pessoas que têm uma vida aparentemente normal, e de repente, sem nada nem ninguém, o prever cometem autênticas loucuras...Impensáveis pelas famílias e amigos mais próximos destes... A besta, existe mesmo, e por qualquer circunstância, um dia poderá imergir de dentro de nós...Não é pecado admiti-lo, pois quando admitimos uma possível situação, mais rapidamente, estamos preparados para lidar e até mesmo domina-la. Posto isto, é urgente olhar para esta situação, com outros olhos, fingir que nada se passa, e nada se vê, é sem dúvida, o caminho para a desgraça.