23 out, 2024
A presidente da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial defende que o cada vez maior peso desta tecnologia no mercado de trabalho “exige uma capacidade de resposta à altura” e obriga Portugal a pensar, urgentemente, “na capacitação e na formação das pessoas que vão ficar sem os seus postos de trabalho” para evitar a exclusão, principalmente, de trabalhadores menos qualificados.
Em entrevista ao podcast Radar Europa, da Renascença em parceria com a Euranet Plus, Goreti Marreiros lembra que, no passado, outras “revoluções”, como a da Inteligência Artificial, “já tiveram impacto no mercado de trabalho”, no entanto, desta vez, “a grande diferença é que [esta revolução] está a ser muito significativa e muito rápida”.
A especialista sublinha, ainda, que a União Europeia tem a Lei da Inteligência Artificial em vigor e que todos os países estão a proceder à sua implementação. No entanto, Goreti Marreiros alerta que "essa própria lei terá que ser revisitada, dada a velocidade das novas descobertas e dos novos desenvolvimentos”.
Um estudo da consultora McKinsey sobre o futuro do trabalho conclui que a Inteligência Artificial vai afetar 30% do mercado de trabalho. Cerca de 1,3 milhões de postos de trabalho terão de ser requalificados em Portugal e cerca de 320 mil pessoas terão de ser recolocadas. O mesmo estudo diz, contudo, que Portugal tem, com a Inteligência Artificial, uma oportunidade única para dar um salto de produtividade e encurtar o fosso para a média da União Europeia e dos Estados Unidos até 2030.
É perante este quadro que o especialista em Direito Laboral, Luís Gonçalves da Silva diz ser importante que “o Estado pudesse começar já a trabalhar para não haver uma exclusão” de trabalhadores. O advogado lembra que Portugal “tem graves problemas em termos de qualificação, quer de empregadores, quer de trabalhadores”, pelo que este deveria ser um tema que já devia estar a ser “discutido por diferentes especialistas, nas diferentes áreas, para depois ser possível conseguir um plano que rapidamente venha a ser executado”.
Para Luís Gonçalves da Silva, é preciso que “as pessoas, em especial as mais vulneráveis, tenham um conjunto de informação que as permita verdadeiramente defender-se dos riscos, que são muitos, da Inteligência Artificial”. Por isso, apesar de ser “essencial uma intervenção para uma uniformização em termos de legislação na União Europeia”, também “é essencial que o Estado português faça o seu próprio trabalho”, porque esta é "uma verdadeira revolução”, na qual "quem não tiver acesso à formação acerca da Inteligência Artificial corre o risco de, a breve prazo, ser excluído de todo o mundo novo”.
O podcast Radar Europa é uma parceria Renascença com a Euranet Plus, a rede europeia de rádios.