06 out, 2016
Como é que o país que desprezou o primeiro-ministro António Guterres agora louva a sua nomeação para secretário-geral das Nações Unidas?
É estranho, mas se olharmos para as características do ex-primeiro-ministro percebemos como os mesmos atributos que o fizeram levar o país ao pântano são agora preciosos para ser indiscutivelmente o melhor candidato ao lugar que vai ocupar.
É verdade que a razão e o coração com que chegou a São Bento souberam a pouco na resolução dos problemas quotidianos, até porque para os resolver era preciso dedicar muito tempo a negociações como a do famoso queijo limiano e, no fundo, Guterres começou a sentir que era um esforço inglório para fracos resultados.
A tarefa não estava à sua altura e António Guterres foi procurar a felicidade noutro lado, onde as suas qualidades fizessem a diferença. Chegou às Nações Unidas pela porta do Alto Comissariado para os Refugiados e logo aí se percebeu que a razão, o coração, o diálogo e os consensos que não resultaram na política caseira eram as qualidades que faltavam e muito na cena internacional.
Guterres finalmente descobriu a sua vocação, percebeu qual o melhor destino para as suas capacidades ímpares, definiu um caminho e não se distanciou dele, nem quando há um ano o quiseram aclamar como candidato vencedor a Presidente da República. Sem qualquer garantia de que teria sucesso na corrida ao lugar mais alto da cena internacional, António Guterres percebeu que o fato de Belém nunca lhe vestiria tão bem como ao seu adversário, mas amigo, Marcelo Rebelo de Sousa.
Nos últimos tempos, Guterres juntou a palavra “ambição” ao mote “razão” e “coração”. Fez bem: provou a Portugal e ao mundo que os mesmos atributos que fizeram dele um mau primeiro-ministro foram a chave para que se percebesse que era o melhor candidato a secretário-geral das Nações Unidas, deitando mesmo por terra uma ideia já muito bem construída de candidata ao lugar. Bastou-lhe não deixar dúvidas de que era o melhor.
Parabéns, engenheiro Guterres.