06 fev, 2017
Esta é uma homenagem a pessoas que a minha juventude não dispensou, mas que raramente valorizamos, a não ser quando nos lembramos das pessoas concretas.
A D. Conceição e a D. Zulmira eram as auxiliares do meu liceu. Por elas passaram gerações de alunos que criaram com elas muito mais que uma relação com funcionárias burocratas da escola. Todos os dias eram elas as donas daquela casa onde passávamos os nossos dias. Foram elas que mantiveram o liceu a funcionar, que ajudaram alunos e professores a partilhar o espaço, a respeitar quem lá trabalha, a ajudar quem precisava de auxílio material ou pessoal.
Para todos nós, que conhecemos e convivemos durante anos com a D. Conceição e com a D. Zulmira, não era imaginável conceber o liceu sem elas lá dentro. Nunca nos ocorreu questionar a necessidade da sua presença, elas simplesmente eram precisas para tudo: para o bom funcionamento das aulas, para os intervalos e para os “furos”. Sem D. Conceição e sem D. Zulmira o nosso liceu não podia funcionar nem nós estávamos à vontade para fazer as asneiras que tantas vezes fizemos.
Passaram os anos e descobri que na escola dos meus filhos as auxiliares são carinhosamente chamadas de “tias” por crianças e professores. O título não surge por acaso. Verdadeiramente para as crianças que entram naquela escola, as auxiliares são mesmo o elo familiar que lhes apresenta uma escola que é também uma casa, a casa onde daí para a frente passarão os seus dias.
As “tias”, a D. Zulmira e a D. Conceição são a maior prova de que quando se protesta contra a ausência de auxiliares nas escolas não se está a falar de pormenores, está-se mesmo a falar do essencial, tão essencial como os professores.
Sem eles simplesmente não há escola. E não estou a simplesmente a falar do funcionamento de serviços, mas de pessoas que, tal como os professores, têm uma vocação muito especial para lidar com os alunos.
É por isso que usar do expediente de mandar temporariamente as pessoas que estão em lista de espera nos centros de emprego para ocupar estes lugares não é solução. As escolas precisam mesmo é das “tias”.